sábado, maio 24

Porquê Tessalónica?

Vamos deter-nos na correspondência de Paulo à comunidade dos cristãos de Tessalónica.

Vou ensinar-vos como é…

Na sua carta dirigida ao seu amigo Filémon, Paulo procura afirmar a nova condição liberta do seu escravo Onésimo. Ao jeito dos clássicos da retórica, Paulo procura demonstrar-nos como se persuade um homem.

Se “toda a escrita é retórica”, com mais razão se pode afirmar daquela escrita calculada e lavrada em atelier com objectivo metamorfósico. Ao lado do puer-Paulo caminha o senex revelando o intelectual de vanguarda, pioneiro do cristianismo que se pensa a si próprio.

O centro desta carta sobre o “filho” de Paulo [v. 10], no nosso entender, encontra-se – diríamos – no seu “centro geodésico”: a nova condição liberta de Onésimo, operada por Deus [vv. 15-16].

sexta-feira, maio 23

«Em Antioquia foi dado aos discípulos o nome de cristãos»

Com a morte de Estêvão, os jovens helenistas que saíram de Jerusalém para fugir à perseguição, realizaram uma das missões mais felizes e audazes da igreja das origens. O cristianismo começou a difundir-se nas duas margens do Mediterrâneo, uns Cristãos dirigiram-se para a Samaria, outros remaram para as ilhas de Chipre, outros atingiram a Cirenaica na costa africana, outros ainda dirigiram-se para a Fenícia e penetraram na grande cidade de Antioquia, a terceira cidade do império romano em população depois de Roma e Alexandria. Antioquia tinha sido fundada no ano 300 a. C. por Seleuco I Nicator, general de Alexandre Magno, em honra de seu pai. Com os romanos, ela tornou-se uma cidade com meio milhão de habitantes. Em 1939 foi agregada à Turquia por Ataturk. Nesta capital da província da Síria residia o governador romano que dispunha de grandes forças militares, para controlar as fronteiras orientais do império romano. Antioquia era uma belíssima cidade situada nas margens do rio Orontes, a 20 km do mar, e entrava-se nela por uma célebre estrada construída por Herodes o Grande, o mesmo monarca que reconstruiu o Templo de Jerusalém e que, apesar das inúmeras violências e assassínios, mereceu da história o cognome de «Grande» devido às magníficas construções que realizou. A avenida, ladeada de pórticos, com quatro fileiras de colunas de mármore, tinha 9,60 de largura e desembocava numa praça com uma fonte monumental onde, sobre uma coluna, se erguia uma estátua do imperador romano Tibério. A cidade tinha a dominá-la o monte Silpius com cerca de 400 metros de altitude, donde brotava uma torrente de água que se derramava no rio Orontes. Uma outra estrada perpendicular à de Herodes, conduzia ao rio, onde sobre uma ilha se construíra o palácio imperial e o circo. Por cima da porta da entrada na cidade, uma loba alimentava Rómulo e Remo, símbolo da soberania do povo romano. Estas avenidas estavam adornadas com estátuas, obras primas da arte grega. A cidade era protegida por uma muralha, com três centenas de torres, que subia pelo monte Silpius, formando uma magnífica coroa defensiva contra os invasores.O quarteirão residencial dos ricos era Dafne, nele se erguiam magníficos palácios, crescia uma luxuriante vegetação e a água corria em abundância.Hoje, Antioquia, é uma grande cidade com edifícios modernos e antigos que não permite adivinhar a grandeza do seu passado, a não ser no magnífico Museu Arqueológico de mosaicos romanos e bizantinos. Quanto à Igreja primitiva nem sequer se consegue descobrir o lugar onde se reuniam os cristãos no bairro da Epifania. A capela de São Pedro, ornamentada pelos cruzados e incrustada na montanha, tem uma pequena estátua do Santo e uma cadeira em pedra muito significativa que, ainda hoje, se recorda na liturgia com a festa da Cátedra de São Pedro em Antioquia. Felizmente que no bairro antigo ergue-se hoje uma pequena igreja, servida por um capuchinho italiano, padre Domenico, que tem o carisma de reunir católicos, ortodoxos e muçulmanos, para a oração e festas. Na eucaristia que concelebrei no ano passado, com orações e cânticos em português e turco, os peregrinos choravam de emoção e alegria, por este grande sinal de unidade e fraternidade na cidade onde recebemos, pela primeira vez, o nome de cristãos.

quinta-feira, maio 22

UM TERRENO MINADO

O leitor atento da carta de são Paulo aos Gálatas dá se conta do carácter conflictual da sua carta. Percebe-se um conflito entre os Gálatas, o Apóstolo e um grupo de judeus-cristãos que intentaram modificar o evangelho anunciado por Paulo.
Nesse contexto de desvio evangélico, o estilo retórico de deixa ver Paulo sumamente preocupado pela situação.
Paulo repreende os Gálatas nestes termos ( Gl 1, 6 - 10 ) : "6*Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. 7Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. 8*Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. 9Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema.10*Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo".
Assim sendo, como argumentação, Paulo elabora alguns elementos teológicos fundamentais em relação à obra libertadora de Jesus Cristo.

SUBI A JERUSALÉM

Esta frase não brota dos meus lábios não é um testemunho de Paulo na primeira pessoa do singular.
De facto, Paulo subi a Jerusalém para conhecer a Céfas. Ficou aí durante quinze dias. Na mesma altura, encontrou Tiago, o irmão do Senhor.
O próprio Paulo escreve ( GL 1, 18 - 20 ) : "18*A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. 19*Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20O que vos escrevo, digo-o diante de Deus: não estou a mentir".
Tudo indica que antes de subir a Jerusalém, o Apóstolo dos gentios partiu primeiro para a Arábia e voltou outra vez a Damasco.
Qual era o motivo da sua viagem a Jerusalém ? Como está escrito, Paulo queria conhecer a Céfas. De facto, sem forçar os textos, segundos alguns estudiosos, a expressão grega " istoresai Kéfan ", utilizada pelo Apóstolo, não indica somente um simples conhecimento de Pedro, mas também e sobretudo entrar em contacto pessoal e em conversa com ele.
Após a sua conversão, ao visitar Céfas em Jerusalém, Paulo tinha um objecto claro : conhecer directamente uma testemunha autorizada desde a primeira hora - no caso de Pedro - como foi Jesus, quais foram os seus ensinamentos, quais são as obras realizadas por Ele, porquê morreu na Cruz, como o conheceram ressuscitado.

«Enviaram-no para Tarso»

Em Jerusalém, Saulo era temido. Ter-se-ia de facto convertido a Jesus de Nazaré? Muitos desconfiavam dele. Um helenista natural de Chipre, de nome Barnabé, que em hebraico significa «filho da consolação», acreditou em Saulo e apresentou-o aos apóstolos, Pedro e Tiago. Deus permitiu que Saulo se encontrasse com Cefas, ou seja Pedro, para conhecer melhor a vida de Jesus Cristo e as tradições da Igreja. Durante quinze dias permaneceu em Jerusalém. Esta convivência entre Pedro e Saulo levou o apóstolo a conhecer as tradições da Igreja mãe, como nos revela na carta aos Coríntios, sobre as aparições do ressuscitado (1 Cor. 15) e as da Eucaristia, na última Ceia. «Porque eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: que o Senhor Jesus na noite em que foi entregue tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «isto é o meu corpo, que é para vós, fazei isto em memória de mim…» (1 Cor. 11, 23).Em Jerusalém, Saulo não perdeu tempo, dirigiu-se à sinagoga dos libertos, ou seja a dos judeus oriundos do estrangeiro, e anunciou claramente que Jesus era o Messias esperado. Pouco faltou para ser morto como Estêvão. Diz o livro dos Actos que «falava e discutia com os helenistas; mas eles procuravam matá-lo. Tendo sabido isto, os irmãos, conduziram-no a Cesareia e daí o enviaram para Tarso» (Act. 14, 29).

Justificação pela fé Gálatas e Romanos


quarta-feira, maio 21

ALGUNS TEMAS TEOLÓGICOS EM GÁLATAS

Entre as cartas paulinas, a carta aos Gálatas é uma das cartas mais fascinantes e polémicas que originou divisões, controversias e debates na história do cristianismo e da Igreja.
Além do tema da justificação ( Gl 2, 16 ) : "Sabemos, porém, que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo; por isso, também nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei; porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada", a carta realce também alguns temas, entre outros o da Liberdade ( Gl 5, 1 ) : "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão"; o da igualdade de todos em Cristo ( Gl 3, 28 ) : "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus".
Temos também o tema da mariologia e da filiação divina ( Gl 4, 1 - 7 ) : "1*Mas eu digo-vos: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, em nada difere de um escravo, apesar de ser senhor de tudo. 2*Pelo contrário, está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia fixado pelo seu pai. 3*Assim também nós, quando éramos crianças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo, a eles sujeitos como escravos.4*Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, 5*para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. 6*E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: «Abbá! - Pai!» 7*Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus". Mais uma vez, temos o tema da fé ( Gl 3, 6 - 14 ), o da lei ( Gl 3, 15 -24 ).
Grosso modo, temos o tema de justifição pela fé e não pela lei, o da liberdade cristã, o da vida nova em cristo, o da solidariedade eclesial e da missionação, o da circuncisão. Em última análise, a graça e a liberdade resumem o discurso teológico de Paulo aos Gálatas.

GÁLATAS

1. PRAESCRIPTIUM: (1, 1-5)

Inclui o nome de emissário e seus companheiros. Tem destinatário e a saudação.

supercriptium: o emissário é Paulo e todos os irmãos que estão com ele.
Adscriptio: ele escreve às igrejas da Galácia
Salutio: graça e paz a vós, da parte de Deus, nosso pai e de Senhor Jesus Cristo. (1,3).

Inclui o nome de emissário e os seus companheiros irmãos, os destinatários e de uma bênção são elementos comuns nas cartas do Paulo. Aqui na carta aos gálatas também aparecem. Sem obstáculo, já desde saúde, o leitor adverte que está a receber uma correspondência com um conteúdo bas5ante delicado. No primeiro versículo, Paulo se apresenta com o título de apóstolo. O apóstolo era um delegado, o embaixador de todos os poderes oficiais. Paulo usa este título para apelar a sua autoridade devido a crise de Gálácia. Ele associa a si como nomeado directamente por Cristo e Deus e não por humanos. Por um lado Paulo defende a sua autoridade apostólica, que estava sendo questionado por outro lado, ao haver sido elegido por Deus directamente e não por uma instituição humana, se introduz indirectamente na controvérsia sobre a graça e a lei. Paulo utiliza o seu nome romano, ele também é chamado Saulo que é o nome Judaico helenizado. Paulo não muda o seu nome ao converter-se, pois Lucas é que utiliza desde o princípio.
“Graça e Paz à vós”: é o saúde cristão que reflecte o saúde judaico “misericórdia e paz” no qual aparece também nesta carta em 6, 16 antes de tudo os elementos comuns das cartas antigas, Paulo introduz aqui e na sua carta aos Romanos fragmentos teológicos com especial ênfase cristológico, a fim de fundamentar a fé, e sobretudo, clarificar sua posição perante seus destinatários. Em 1,4 aparece a formula cristológica mais antiga que menciona a expiação. Paulo centra a sua teologia na morte e ressurreição de Jesus. A finalidade da libertação não consiste obviamente em separar do mundo, mas sim fazer assumir sua liberdade como sujeitos, num mundo alienado.

2. EXORDIUM: (1, 6-10)

Ele começa com uma acusação 2Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou…” v.6 e que outro não há, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como evangelho o contrario daquele que vos anunciámos v.8 o castigo seja anátema. (v.9) agradar aos homens, não seria servo de Cristo.

3. NARRATIO: (1, 11-2,14)

A chamada histórica do Paulo a pregar o evangelho (1, 11-2, 14).

A) O evangelho de Paulo não é de origem humano (1, 11-24).
B) O evangelho do Paulo foi aprovado pelos chefes da Igreja de Jerusalém. (2, 1-10)
C) Paulo censura em Pedro (v.14) não é a doutrina, mas a falta de lógica no modo de proceder em Antioquia. (2, 11-14)

4. PROPOSITIO: (2, 15-21)

O evangelho de Paulo exposto. Ao começo da carta, Paulo se assombra de como os gálatas desejam o Deus da graça por outro evangelho segundo a lei. No fim da carta, ele deseja que era verdadeiramente importante não é a circuncisão ou não circuncisão mas sim a nova criação. Ao longo da toda criação observa-se a intenção primária do autor é persuadir os seus destinatários para que não voltem atrás, submetidos a novos requerimentos presumidamente indispensável para pertencer ao povo de Deus. Sejam justificados pela fé e não pelas obras da lei. Ao receber o dom do Espírito podia viver em liberdade cristã praticando a justiça, como filhos livres de Deus.

Para provar sua posição Paulo propõe 4 argumentos e uma exortação:
1. Ele tem autoridade de Apostolo, eleito por Deus. O evangelho que ele anuncia é de origem divina. Além disso, os de Jerusalém já tinha aceitado seu ministério entre os não Judeus.
2. A justiça de Deus não procede da lei, mas da fé em Cristo. Deus acolhe pela fé e não necessita recorrer a outra coisa.
3. A justiça de Deus é para todos, judeus e não judeus. Desde Abraão, que actuou pela fé, as nações não judias haviam sido abençoadas por Deus conforme da sua promessa. Essa promessa é cumprida em Jesus Cristo.
4. Por dom do Espírito, os crentes são chamados filhos de Deus e chamam Pai a Deus. São filhos de mulher livre, segundo a alegoria de Agar e Sara.

Na exortação, Paulo vê que o Espírito vos ajuda e orienta a praticar a justiça sem necessidade de uma lei exterior.


5. PROBATIO:

No plano de Deus, a humanidade se salva pela fé e não pelas obras. (3, 1-4.31).

A) Primeira Prova: a experiência dos Gálatas ao receber primeiro o Espírito Santo (3, 1-5).
B) Segunda Prova: A experiência de Abraão e as promessas que Deus lhe fez. (3, 6-26)
C) Terceira Prova: A experiência dos cristãos no baptismo (3, 27-29).
D) Quarta Prova: A experiência dos cristãos como filhos de Deus (4, 1-11).
E) Quinta Prova: A experiência dos gálatas na sua relação com Paulo (4, 12-20).
F) Sexta Prova: A alegoria de Sara e Agar, as mulheres de Abraão. (4, 21-31).

6. EXHORTATIO:
O apóstolo exorta os gálatas a quem liberta dos laços da lei mosaica, a permanecerem na sua liberdade. A liberdade cristã, além do nos livrar das amarras da Lei libera nos também das obras do pecado que nos escraviza.

A) Aviso: permanecer na liberdade que Cristo nos deu. (5, 1-12)
B) Advertência: não caminheis segundo a carne mas segundo o espírito. (5, 13-26)
C) Conselho: A maneira correcta de usar a liberdade cristã. (6, 1-10).

7. POSTSCRIPTIO: a assinatura de Paulo recapitulação, bênção de despedida (6, 11-18).

GÁLATAS : UMA COMUNIDADE EM CONSTRUÇÃO



Geografia e história

Galácia


Galácia era uma província romana que ocupava a parte central do que agora é conhecido como a Ásia Menor. Era limitada por outras províncias romanas — em parte pela Capadócia, ao Leste, pela Bitínia e Ponto, ao Norte, pela Ásia Menor, ao Oeste, e pela Panfília, ao Sul. Situa-se num planalto entre os Montes Tauro, ao Sul, e os Montes da Paflagônia, ao Norte. Na sua parte norte-central, ficava a cidade de Ancira, agora chamada Ancara, capital da Turquia. E através desta região passava o curso médio do Rio Hális (o actual Kizil Irmak) e a parte superior do Rio Sangarius (Sakarya), que desembocavam no Mar Negro.

História

A história desta região, a partir do século III a.C., mostra que houve muitas mudanças nas fronteiras e nas afiliações políticas desta região estratégica. Parece que, por volta de 278-27 7 a.C., um grande número de celtas da Gália ou gauleses, que os gregos chamavam de Galátai (daí o nome desta região), atravessaram o Estreito do Bósforo e se estabeleceram nesta região. Trouxeram consigo suas esposas e seus filhos, e evidentemente evitavam casar-se com o povo já existente ali, perpetuando assim suas características raciais durante séculos. Eles ainda falavam sua língua gálata, de origem celta, no tempo de Jerônimo (347420 d.C.), o qual descreveu que o gálatas de Ancara e o povo de Trier(localizada no que é hoje a Renânia alemã) falavam uma língua muito semelhante. Seu último rei, Amintas, morreu em 25 a.C., e foi durante o seu reinado como títere do Império Romano, e posteriormente, que a região denominada Galácia foi ampliada para incluir partes da Licaónia, da Pisídia, da Paflagónia, de Ponto e da Frígia.

O cristianismo na província

Foi então nesta Galácia ampliada que o apóstolo Paulo e outros missionários cristãos evangelizaram diversas cidades no século I d.C., e nas quais, organizaram comunidades cristãs locais. Paulo escreveu uma epístola às comunidades cristãs da Galácia, a Epístola aos Gálatas.


Fonte : Wikimedia





«Voltei novamente a Damasco»

Após dois anos de reflexão sobre Deus, o homem e si mesmo, Saulo voltou a Damasco, onde deveria ter demorado um ano. «Não subi a Jerusalém, escreveu na carta aos Gálatas, para junto daqueles que eram apóstolos antes de mim, mas desci à Arábia, e voltei outra vez a Damasco» (Gal. 1, 17).A cidade tinha mudado muito, já não era administrada pelos romanos. Tibério tinha morrido cheio de remorsos e fantasmas, na ilha de Capri. O povo humilde desta ilha afirma que o seu espírito ainda vagueia pelos lugares ermos da formosa estância de turismo internacional. Como imperador sucedeu-lhe Calígula que, antes de enlouquecer, concedeu aos povos do Oriente uma certa autonomia, e o legado imperial da Síria, Vitélio, entregou Damasco ao rei dos beduínos, Aretas de Petra. Os judeus comerciantes alegraram-se com a nova liberdade, e o rei para os cativar aumentou-lhes a autonomia.Saulo veio morar em casa do seu amigo Judas e começou a anunciar Jesus como Messias, que lhe aparecera junto à porta da cidade. Quando entrou na sinagoga, os judeus enfureceram-se e pretendiam matá-lo. Apareceram assassinos para liquidar o apóstolo. Os comerciantes judeus conseguem subornar o monarca árabe que ordena a colocação de sentinelas nas portas da cidade, de dia e de noite, para prenderem Saulo.O convertido de Damasco confiava no Senhor que lhe aparecera e o escolhera como vaso de eleição. Durante a noite alguns irmãos conduzem-no a uma casa encostada à muralha da cidade e fazem-no descer dentro de um cesto, amarrado com fortes cordas e assim saiu da cidade. O apóstolo seguiu para Jerusalém. Durante cerca de oito dias percorreu a estrada que há três anos o conduzira como perseguidor de cristãos até Damasco.
Análise retórica da Carta aos Gálatas

A análise retórica da carta aos Gálatas é particularmente difícil. Ao contrário de outras cartas não é possível delimitar claramente os vários elementos da composição retórica da carta. Contudo, aqui fica uma tentativa de delimitação:

I) O Praescriptum 1,1-5, onde podemos destacar: O superscriptum 1, 1-2a
O adscriptio 1, 2b
A Salutatio/exórdio 1, 4-5
Temos de ter em conta a particularidade desta carta. No exórdio Paulo, ao contrário do quer é habitual não procura a “captatio benevolentiae”.

II) A Propositio 1, 6-10, esta Propositio tem um tom admoestativo, nela o apóstolo exorta de maneira indirecta, aos Gálatas, que abandonem as mentiras que têm seguido.

III) A Probatio 1, 11 a 4, 30
Paulo nesta probatio apresenta uma série de argumentos, que não se seguem de maneira sequenciada, mas se apresentam de maneira bastante confusa.
1) Apologia pessoal 1, 11 a 2, 21
2) Prova escriturística 3,1 a 4, 31
3) Baptismal 3, 27 a 29
4) Emocional 4, 13 e 4, 19.20

IV) A Peroratio 5, 16 a 26

V) O Postscriptum 6, 17 a 18, neste Paulo faz uma inclusão ao mesmo tempo com o início da Carta, mais precisamente com o exórdio, onde Paulo insiste com os Gálatas em desviarem-se do seu caminho; e também uma inclusão com o inicio da sua argumentação, onde Paulo faz uma apologia pessoal.

1 Cor 13,4-7: retrato do amor, espelho de Cristo; ou proposta de uma releitura

“Se substituirmos Cristo pelo amor, obtemos um quadro bastante representativo de Cristo já que o agapê é o amor de Cristo em nós”

In CARREZ, Maurice – A primeira carta aos Coríntios. Lisboa: Difusora Bíblica, 1996.

Cristo foi paciente,
Cristo foi prestável,
não foi invejoso,
não foi arrogante nem orgulhoso,
nada fez de inconveniente,
não procurou o seu próprio interesse,
não se irritou nem guardou ressentimento.
Não se alegrou com a injustiça,
mas rejubilou com a verdade.
Tudo desculpou, tudo creu,
tudo esperou, tudo suportou.

terça-feira, maio 20

Comunidade dos Romanos

A comunidade dos Romanos
I. A pregação como acto cultual
a) O templo: «Pois, se tu foste cortada de uma oliveira bravia e contra a natureza foste enxertada numa oliveira boa, tanto mais eles poderão ser enxotados na própria oliveira boa à qual pertencem». Cf Rm 11, 24.
Nesta passagem digamos que, Paulo exprime a sua convicção de que a Igreja «não é tanto uma criação inteiramente nova, mas é sim uma transformação de uma realidade já existente». Esta transformação realizada, efectuada pela morte de Cristo marca uma nova etapa na história religiosa do mundo. Mas, há também a consciência de que na situação presente, não existe uma ruptura com o passado. O cristão não é um judeu, mas os crentes são filhos de Abraão. «Sabei, portanto, que somente aqueles que têm fé são filhos de Abraão». Cf. Gálatas 3, 7. «E se pertence a Cristo, então sois de facto a descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa». Cf. Gálatas 3, 29. «Eles são Israelitas e possuem a adopção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas». Cf. Rm 9, 4. Por exemplo, no pensamento judaico, glória está ligado a noção da presença de Deus. Ora, é impossível de imaginar Paulo a conceber a glória como um dos privilégios de Israel, sem uma referência directa ao templo. É certo que Paulo tem em conta a dimensão espiritual.
Conclui-se que Paulo considerava o templo, como lugar da presença de Deus manifestado pela sua glória e do culto litúrgico como um dos privilégios de Israel… O sentido é que o novo Israel é fundamentalmente o templo espiritual.
O cristão individual também é considerado como templo. «Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo?». O baptismo faz com que sejamos pedras vivas, templos de Deus.
Talvez, a ideia do templo tenha sido introduzido num sentido de santidade…No espírito de Paulo, o ponto essencial não é o templo enquanto tal, mas sim a conclusão prática no sentido de que aquilo que os cristãos fazem colectivamente ou individualmente seja morada de Deus na pessoa do Espírito. Em cada caso, a ideia do templo é reforçado para indicar uma exigência moral. Os cristãos devem evitar de profanar os templos de Deus que são eles próprios.
b) O serviço do templo: Paulo considera o nosso corpo como templo do Espírito Santo, e nessa valorização há o outro sentido, que é a dimensão cultual da vida cristã no seu conjunto.
O templo é a morada de Deus, mas é também o lugar por excelência onde se oferece o culto litúrgico. A actividade dos crentes participa no carácter litúrgico do seu ser. A santidade do lugar na qual Deus estabeleceu a sua morada e a pureza do culto que é oferecida, não consiste numa integridade ritual, mas sim numa vida de união com Deus que evita as falsas doutrinas e que está em oposição ao pecado e as influências pagãs corrompidas. O culto que os cristãos oferecem é o cumprimento dos deveres impostos pelo seu novo estado.
Este culto que o homem pede, realiza, não é apenas uma oferenda daquilo que a pessoa possui; porque a pessoa é dotada de inteligência e sabe que todo o que ele tem não dele, vem do próprio Deus, e tudo tende para Ele. Então, o culto desejado por Deus é também o dom da pessoa enquanto tal, é a entrega da pessoa na sua totalidade. Essa entrega deve se expressar na sua exterioridade. Entrega de si mesma, não é um acto passageiro. O cristão apresenta a Deus um sacrifício vivo. A vida aqui não se refere a existência humana, refere-se sim, a vida nova dada ao homem por meio do baptismo. «Não ofereçais os membros como instrumento de injustiça para o pecado. Pelo contrário, oferecei-vos a Deus como pessoas vivas, que voltaram dos mortos; e oferecei os membros como instrumento da justiça para Deus». Paulo apresenta Cristo como modelo a seguir. Ele é o Filho amado por excelência. Paulo quer que sejamos imitadores de Cristo como filhos muito amados… Cf. Efésios 5, 1-2…

Comunidade dos Romanos

A comunidade dos Romanos
1- A relevância da pregação de Paulo no plano da salvação
Paulo qualifica o mistério como plano estabelecido por Deus para salvar os homens. Vejamos Rm 15, 25-26 «Agora vou a Jerusalém prestar um serviço aos cristãos. A Macedónia e a Acaia resolveram fazer uma colecta em favor dos cristãos pobres da comunidade de Jerusalém». 1 Cor 2, 7-10 «Ensinamos uma coisa misteriosa e escondida: a sabedoria de Deus aquela que Ele projectou desde o princípio do mundo para nos levar à sua glória». Este plano de salvação já é elaborado desde a eternidade, isto quer dizer que Deus é a própria sabedoria.
Na carta aos Efésios Paulo se apresenta como aquele que teve um grande privilégio de participar na lógica da revelação de forma especial. Ef. 3, 2-5 «Certamente, ouvistes falar do modo como a graça de Deus me foi confiada em vosso benefício. Foi por revelação que Deus me fez conhecer o mistério que acabo de expor brevemente …». Por outro lado, a revelação do mistério de Deus parece ter a marca de uma exigência que é a de anunciar o evangelho aos pagãos a insondável riqueza de Cristo. A pregação do evangelho é o instrumento pela qual os pagãos são introduzidos a entrar na herança judaica e pela mediação de Cristo eles têm acesso ao Pai e a u só Espírito. Ora, o plano de salvação não se revela apenas pela pregação, mas revela-se também na própria pessoa de Cristo, Cristo é a causa da pregação.
Duas linhas a ter me conta: a) A motivação e a finalidade da salvação, b) os efeitos do baptismo.
A motivação e a finalidade de salvação: «Contudo para nós existe um só Deus: o Pai d’Ele tudo procede, e é para Ele que existimos. E há um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e por meio do qual nós existimos». Ora, Deus é o Alfa e o Ómega , Ele é a essência de tudo que existe, e Jesus é o fim pela qual tudo foi criado, então, Jesus é associado no seu acto criador.
As decisões divinas estão em baixo de todas as motivações humanas, porque a grandeza de Deus não cabe no nosso quadro mental ou na nossa arquitectura existencial. Este Deus é o Deus da misericórdia como diz S. Paulo aos efésios 2, 4-6 «Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos a vida juntamente com Cristo, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas. Na pessoa de Jesus Cristo, Deus ressuscitou-nos e fez-nos sentar no céu». Ora, a gloriosa presença do crente no céu é a realização concreta do plano salvífico.
Cristo é o instrumento de salvação: duas palavras a acentuarem: «chrestotés e a filantropia» de Deus nosso Salvador. O amor de Deus, se torna efectiva num preciso momento da história… chrestotés tem o sentido de bondade no sentido das bem-aventuranças, com o acento posto sobre a generosidade e a liberdade; e filantropia literalmente é o amor humano, e na língua de koiné pode ser sinónimo de chrestotés, mas acentua a universalidade dos favores divinos e orienta o pensamento para uma expressão precisa e concreta do amor do Pai, encarnação de Cristo.
b) Os efeitos do baptismo: o baptismo para Paulo é as vezes um começo ou então, libertação, inauguração. Pelo baptismo o homem torna a vida, ou seja, passa da morte da vida. «Deveis deixar de viver como viveis antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras» Cf. Efésios 4, 22. «Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela; assim, Ele a purificou com o banho de água e a santificou pela palavra». Cf. Efésios 5, 25-26. Vemos que Cristo é o modelo de amor pela qual todos devemos seguir… A igreja é cada crente.

Pedro e Paulo, a nova fraternidade evangélica


A tradição cristã contemplou, desde o princípio, Pedro e Paulo como inseparáveis entre si. Na verdade os dois repre­sentam todo o Evangelho.

Em Roma esta relação dos dois, irmanados na mesma fé tem um significado acrescido. Os cristãos de Roma viam neles a imagem oposta aos dois míticos irmãos fundadores da cidade de Roma, Rómulo e Remo.

Pedro e Paulo, humanamente muito diferentes um do outro, cujo relacionamento não foi isento de conflitos, aparecem como fundadores de uma nova cidade, como encarnação de um sentido novo de fraterni­dade, tomada possível através do Evangelho de Jesus Cristo.

Não é a espada do conquistador que salva o mundo, mas a espada do sofredor. Só o seguimento de Jesus Cristo leva à nova fraternidade, à cidade nova. É esta a mensagem do par de irmãos, que nos é transmitida atra­vés das duas basílicas de Roma (através da celebração comum com que unimos na mesma solenidade os apóstolos Pedro e Paulo).

Ainda acerca da Espada…

Quem aprofundar as cartas de Paulo, tentando encontrar nelas como que uma autobiografia escondida do Apóstolo, reconhecerá logo, que com o símbolo da espada, o instrumento da paixão, não se diz só algo sobre os últimos momentos da vida de São Paulo. A espada pode efectivamente caracterizar a sua vida toda: “Combati o bom combate”, diz ele no momento da morte a Timóteo, seu discípulo preferido, fazendo a retrospectiva da sua vida (2 Tim. 4,7).

É por estas palavras que Paulo é descrito como um combatente, um homem de acção, uma natureza violenta. Uma observação superficial sobre a sua vida pode dar azo a este equívoco: Percorreu em quatro grandes viagens uma grande parte do mundo conhecido de então, tornando-se verdadeiramente o apóstolo das gentes, que levou o Evan­gelho de Jesus Cristo “até aos confins da terra”. Através das suas cartas procurou manter a unidade das comunida­des que fundou, contribuir para o seu crescimento e cuidar da sua perseverança.

Temperamental, soube enfrentar adversários que nunca lhe faltaram. Investiu todos os meios na “obrigação da evangelização que lhe foi imposta (1 Cor 9, 16), com a maior eficácia possível. Assim, será sempre apresentado como o grande activista, como patrono dos inventores das novas estratégias da pastoral e da missão. Esta visão não está errada, mas não é o Paulo total; na realidade, quem assim o vê, perde o essencial da sua figura.

segunda-feira, maio 19

As Cartas aos Gálatas e aos Romanos

Bem, “o tipo” cresceu muito, hein!!!

Como somos diligentes e fidedignos leitores das Cartas de Paulo, quando pomos frente a frente as Cartas aos Gálatas e aos Romanos deparamos que o autor maturou na fé.
Paulo teve de cavar fundo na sua experiencia de Cristo, para saber como reagir e o que dizer, para orientar o povo das comunidades. Aos vinte e oito anos, ele mesmo já tinha experimentado que a observância da Lei não tinha poder algum sobre Deus. Se Deus aproximou de nós em Jesus, não foi por causa dos nossos méritos, mas porque Ele mesmo o quis por amor.
A Carta aos Gálatas foi escrita, segundo alguns estudiosos, quando a luta estava no auge. Um grupo de «falsos irmãos» entrou na comunidade de Galácia e, pretendiam desmoronar Paulo por terra, diziam que, para alguém poder salvar-se, era necessário ser circuncidado e observar a Lei. Paulo estava em Éfeso ou em Corinto quando soube da notícia. Obviamente, o homem passou-se da cabeça, porque via todo o seu trabalho missionário naquelas terras de Galácia a ir para água a baixo, ou como diz o povo “em águas de bacalhau”. Foi então que Paulo escreveu a carta que é um grito de protesto, Carta aos Gálatas.
Todavia, a Carta aos Romanos já é, digamos, uma síntese mais reflectida. Nota-se que ali Paulo cresceu na fé. Portanto, é aqui que, depois de ganha a batalha, Paulo tenta organizar e sistematizar melhor o seu pensamento, já exposto na Carta aos Gálatas. A Carta aos Romanos é fruto duma batalha vencida.
Conclusão, estas duas cartas mostram como “o tipo” (=Paulo), no terceiro período da sua vida, maturou interiormente, e como chegou a isso através da vivencia dos conflitos, que sugiram na sua vida.
By Arlindo Tavares
Primeira carta aos Tessalónicenses - Análise social

A comunidade cristã de Tessalónica era certamente constituída, na sua imensa maioria, por pagãos convertidos, dado que, em 1 Tes, 1, 9, Paulo se refere aos Tessalónicenses como “convertidos dos ídolos a Deus para servir o Deus vivo e verdadeiro”. A comunidade de Tessalónica era uma comunidade pequena. A comunidade carecia duma instrução sólida e edificante, duma formação na fé daqueles que adquiriram uma fé convicta e pessoal. O trabalho pastoral de Paulo e Silvano foi bruscamente interrompido em Tessalonica, quando os judeus infiéis mobilizaram contra os missionários. Os missionários foram forçados a abandonar a cidade durante a noite e até o momento não tiveram ocasião de voltar (Tes 2,18; 3,6). Paulo sabe que a comunidade necessita do “fortalecimento” (Tes 3, 2.13) e da graça da perseverança.

Os cristãos de Tessalónica após a conversão e baptismo continuam sujeitos ao perigo. Isto é recair na sua antiga vida, anterior à conversão, nos costumes do ambiente em que vivia. Os vícios típicos do antigo paganismo, a saber, fornicação e desonestidades, continuaram a ser perigo também para os cristãos recém-convertidos. Contra eles foi preciso serem advertidos (Tes 4, 3-8), como Paulo o reconheceu muito sobriamente. Em Tessalonica também havia irmãos que eram ociosos e preferiam estar, pelo mercado, a discutir a cuidar de sua vida particular e doméstica (4, 11ss). Há pessoas na comunidade que são “preguiçosas” (5,14) e precisam ser admoestadas constantemente; há também, nela, irmãos “fracos” (5,14) que sempre de novo necessitam de instrução e de apoio. Há, ainda “pusilânimes” (5,14) e “desconsolados” (4, 13.18; 5, 11) que reclamam reanimação. Na comunidade existia inveja (5,12), a injustiça e a hostilidade (5,15), e o arrefecimento da caridade (3,12). Podemos dizer que os cristãos continuam ser criaturas humanas, e os da diáspora estão sempre predispostos ao mal. Não devemos idealizar a comunidade de Tessalonica, se quisermos entender as admoestações de Paulo: esses cristãos assemelham-se a nós em muitos aspectos - em sua predisposição, em sua fraqueza e no risco que correm.

A comunidade de Tessalónca é uma comunidade na tribulação e na perseguição. Paulo vê, nessas tribulações, o rumo marcado por Deus. No entanto, atrás dessas tribulações está Satanás como seu verdadeiro autor (3, 5). Justamente, por isso, são elas tão perigosas que a gente precisa preocupar-se pela sobrevivência da comunidade (3,5.8), para que ela se conserve “fortalecida” (3,13) e “inteira” (5,23).

Daivadas V Thomas

domingo, maio 18

“Parti para a Arábia”

«Durante a noite alguns irmãos conduzem-no a uma casa encostada à muralha da cidade e fazem-no descer dentro de um cesto, amarrado com fortes cordas e assim saiu da cidade.» Saulo, no deserto da Arábia, amadureceu o conhecimento de Jesus como seu Salvador e de todos os homens. Saulo é um homem de fé que saboreia as coisas invisíveis, e estas iluminam e aquecem o seu coração. A ele podemos aplicar a oração de Jesus: «Pai, eu te bendigo, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes e as revelastes aos pequeninos. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado» (Mt. 11, 25-26).O livro dos Actos dos Apóstolos, após descrever a conversão de Saulo, tem uma lacuna que é preenchida pelo apóstolo na carta aos Gálatas. Paulo termina um período de três anos na Arábia, no reino dos nabateus, vindo de novo para Damasco. «Sem subir a Jerusalém, para ver os que eram apóstolos antes de mim, parti para a Arábia e voltei novamente a Damasco» (Gal. 1, 17).O termo Arábia, designa o reino dos nabateus e tinha como capital Petra, a célebre cidade vermelha que figura hoje entre as sete maravilhas do mundo. A cidade era célebre pelos seus palácios e túmulos escavados nas rochas e tinha Aretas IV como seu rei. O reino ocupava a região do Edom, conhecida como a pátria de Herodes o Grande que restaurou o Templo de Jerusalém e fundou a cidade de Cesareia marítima.O único meio de transporte nestas terras secas e áridas, era o camelo, apesar de nelas se erguerem cidades importantes como Gerasa, com as admiráveis ruínas romanas, Filadélfia, a actual Amman capital da Jordânia, Bosra e Homs.A situação política não era muito pacífica, visto Aretas estar de péssimas relações com o tetrarca Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande, por aquele ter repudiado a sua filha para desposar Herodíades mulher de seu meio irmão Herodes Filipe como nos narra São Mateus (14, 1-12) e Flávio Josefo nas Antiguidades Judaicas.Não sabemos que cidade ou lugar escolheu Saulo para um longo retiro de dois anos. O convertido, à imitação dos grandes profetas da Bíblia, escolheu o deserto, um lugar solitário e selvagem, habitado por beduínos e seus rebanhos, para orar e meditar profundamente sobre o novo plano de Deus para a sua vida. Como tecelão, ofício também conhecido pelos beduínos, ser-lhe-ia fácil ganhar o necessário para uma vida modesta, como mais tarde fará nas suas viagens apostólicas.Este tempo foi muito fecundo para o apóstolo meditar na grande transformação que Jesus operara na sua vida, transformando um fariseu sincero e defensor da Lei, num ardente discípulo de Jesus crucificado.Escrevendo aos cristãos de Filipos refere: «Aquelas coisas que considerava como lucro, considerei-as como perda por amor de Cristo. Sim, na verdade tudo isso tenho como perda, perante o sublime conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor, pelo qual renunciei a todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo…» (Filip. 3,7-8).Para meditar em silêncio no deserto sobre Jesus Cristo, Saulo já sabia o suficiente. Quantas discussões tivera com Estêvão e cristãos de Jerusalém? Quanto aprendeu com Ananias que o curou da cegueira e o baptizou, mas principalmente quantas graças Jesus lhe infundiu no seu espírito, às portas de Damasco, para continuar fiel à sua nova vocação!Após o seu baptismo em Damasco, e de «estar alguns dias com os discípulos», Saulo começou «a pregar nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus, e todos os que o ouviam pasmavam… demonstrando-lhes que Jesus é o Cristo» (Act. 14, 1 ss).Saulo, no deserto da Arábia, amadureceu o conhecimento de Jesus como seu Salvador e de todos os homens. Saulo é um homem de fé que saboreia as coisas invisíveis, e estas iluminam e aquecem o seu coração. A ele podemos aplicar a oração de Jesus: «Pai, eu te bendigo, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes e as revelastes aos pequeninos. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado» (Mt. 11, 25-26).