sexta-feira, maio 23

«Em Antioquia foi dado aos discípulos o nome de cristãos»

Com a morte de Estêvão, os jovens helenistas que saíram de Jerusalém para fugir à perseguição, realizaram uma das missões mais felizes e audazes da igreja das origens. O cristianismo começou a difundir-se nas duas margens do Mediterrâneo, uns Cristãos dirigiram-se para a Samaria, outros remaram para as ilhas de Chipre, outros atingiram a Cirenaica na costa africana, outros ainda dirigiram-se para a Fenícia e penetraram na grande cidade de Antioquia, a terceira cidade do império romano em população depois de Roma e Alexandria. Antioquia tinha sido fundada no ano 300 a. C. por Seleuco I Nicator, general de Alexandre Magno, em honra de seu pai. Com os romanos, ela tornou-se uma cidade com meio milhão de habitantes. Em 1939 foi agregada à Turquia por Ataturk. Nesta capital da província da Síria residia o governador romano que dispunha de grandes forças militares, para controlar as fronteiras orientais do império romano. Antioquia era uma belíssima cidade situada nas margens do rio Orontes, a 20 km do mar, e entrava-se nela por uma célebre estrada construída por Herodes o Grande, o mesmo monarca que reconstruiu o Templo de Jerusalém e que, apesar das inúmeras violências e assassínios, mereceu da história o cognome de «Grande» devido às magníficas construções que realizou. A avenida, ladeada de pórticos, com quatro fileiras de colunas de mármore, tinha 9,60 de largura e desembocava numa praça com uma fonte monumental onde, sobre uma coluna, se erguia uma estátua do imperador romano Tibério. A cidade tinha a dominá-la o monte Silpius com cerca de 400 metros de altitude, donde brotava uma torrente de água que se derramava no rio Orontes. Uma outra estrada perpendicular à de Herodes, conduzia ao rio, onde sobre uma ilha se construíra o palácio imperial e o circo. Por cima da porta da entrada na cidade, uma loba alimentava Rómulo e Remo, símbolo da soberania do povo romano. Estas avenidas estavam adornadas com estátuas, obras primas da arte grega. A cidade era protegida por uma muralha, com três centenas de torres, que subia pelo monte Silpius, formando uma magnífica coroa defensiva contra os invasores.O quarteirão residencial dos ricos era Dafne, nele se erguiam magníficos palácios, crescia uma luxuriante vegetação e a água corria em abundância.Hoje, Antioquia, é uma grande cidade com edifícios modernos e antigos que não permite adivinhar a grandeza do seu passado, a não ser no magnífico Museu Arqueológico de mosaicos romanos e bizantinos. Quanto à Igreja primitiva nem sequer se consegue descobrir o lugar onde se reuniam os cristãos no bairro da Epifania. A capela de São Pedro, ornamentada pelos cruzados e incrustada na montanha, tem uma pequena estátua do Santo e uma cadeira em pedra muito significativa que, ainda hoje, se recorda na liturgia com a festa da Cátedra de São Pedro em Antioquia. Felizmente que no bairro antigo ergue-se hoje uma pequena igreja, servida por um capuchinho italiano, padre Domenico, que tem o carisma de reunir católicos, ortodoxos e muçulmanos, para a oração e festas. Na eucaristia que concelebrei no ano passado, com orações e cânticos em português e turco, os peregrinos choravam de emoção e alegria, por este grande sinal de unidade e fraternidade na cidade onde recebemos, pela primeira vez, o nome de cristãos.

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