sábado, abril 19

COMUNIDADE DOS ROMANOS - ENTREPARENTISIS


Na continuidade do post intitulado "Comunidade dos Romanos - Análise Social", apresento o presente post.
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A EVANGELIZAÇÃO DE CORINTO
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Paulo e os companheiros estavam habituados a actuar em "território virgem" (Rm 15,20). Por isso, Paulo não podia imaginar que encontrasse em Corinto outros cristãos, entre os quais Priscila e Áquila. Estes últimos viam o seu ofício como um meio de conversão de um companheiro judeu, mas depressa perceberam que Paulo e os companheiros eram seguidores de Cristo e ficaram cheios de contentamento. (1)
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Priscila e Áquila não tinham tido sucesso como missionários em Corinto. A sua experiência em Roma deve tê-los levado a sentirem a sua incompetência na transmissão da fé. Pode ser que tenham voltado a participar na comunidade judaica, ainda que guardassem a memória de Jesus a quem haviam aceitado como Messias. Ora, a vinda de Paulo mudou tudo. A fé de Priscila e Áquila recebeu novo fôlego, a ponto de arriscarem avida (Rm 16,4). Prepararam o caminho para Paulo em Éfeso (1Cor 16,19) e, depois, em Roma (Rm 16,3). (2)
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JUDAIZANTES E ESPIRITUAIS
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"Os judaizantes, entretanto, não estavam sozinhos na oposição a Paulo. Há também indícios que apontam para os espirituais." (3)
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A situação em Corinto era dramática. "O perigo era muito mais insidioso que na Galácia. Os judaizantes perceberam o ataque frontal a Paulo. Agora procuravam consolidar a sua base entre elementos insatisfeitos na comunidade. Depois de conseguir isso, passariam a outros setores da Igreja, onde o terreno havia sido preparado, até certo ponto, pelas atitudes de Paulo." (4)
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(1) Cf MURPHY-O'CONNOR, Paulo: Biografia Crítica, Loyola, São Paulo, 2000, 271, 273.
(2) Cf Ibidem, 273.
(3) Ibidem, 307.
(4) Ibidem, 309.
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HELENA FRANCO
2008-4-19

COMUNIDADE DOS ROMANOS - ANÁLISE SOCIAL


Roma não era propriamente um "território missinário virgem" que necessitasse que o seu valor fosse provado em termos vanguardistas. A sua Igreja era constítuida por muitos membros ligados à cultura do Mediterrâneo oriental. A hospitalidade aos viajantes eram uma prática muito comun entre a comunidade dos romanos. Paulo contava, pois, com a sua generosidade. (1)
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A Igreja de Roma tinha as suas origens envoltas em obscuridade. Ao que parece Roma foi evangelizada por cristãos de origem judaica. A mais antiga menção de actividade missionária é a seguinte: "Cláudio expulsou de Roma os judeus que constantemente provocavam desordens por instigação de Chrestus" (Cláudio 25,4). Esta acção do Imperador veio a ser o elemento primordial da reconstrução do cristianismo romano. (2)
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"A essência do esboço é que o cristiansimo de Roma originou-se da sinagoga. Os missionários converteram alguns dos judeus e um número maior de tementes a Deus que se haviam ligado à sinagoga. Já atraídos pelas características do judaísmo, esses últimos não tiveram dificuldade para adotar as práticas judaicas, exceto circuncisão." (3)
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Imediatamente antes de Cláudio, o cristianismo não era senão uma forma judaizante da fé, que as diversas sinagogas onde procuravam encontrar lugar deixaram pouco-a-pouco de tolerar, a ponto dessa oposição se tornar tão agressiva que as autoridades romanas foram obrigadas a interferir. Por isso, Cláudio expulsou os judeus. Consequentemente, os fiéis de origem pagã tornaram-se os únicos cristãos romanos e começaram a atrair novos convertidos. A Igreja domiciliar veio substituir a sinagoga como centro institucional. Com Nero, a proibição foi suspensa. Judeus e cristãos de orgem judaica tiveram o consentimento de regressar a Roma, mas não de se reunir. Os últimos constituiam uma minoria, o que lhe causava um inevitável ressentimento. (4)
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Mas esse esboço provavelmente não corresponde à realidade, mas sim um outro que parte dos problemas que Paulo encontrou em Corinto relativos à relação entre judaísmo e cristianismo e aos judaizantes, como tentarei analisar noutro post.
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Nos Actos dos Apóstolos, esse novo esboço emerge: "Lucas inicia seu relato da visita de Paulo a Corinto com as palavras: "Deixando Atenas, Paulo foi em seguida para Corinto. Lá encontrou um judeu chamado Áquila, originário do Ponto, que acabava de chegar da Itália com sua mulher Psicila. Pois Cláudio decretara que todos os judeus deviam sair de Roma" (At 18,1-2). (5)
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(1) Cf MURPHY-O'CONNOR, OP, Paulo: Biografia Crítica, Loyola, São Paulo, 2000, 332.
(2) Cf Ibidem, 336.
(3) Ibidem, 336.
(4) Cf Ibidem, 336-7.
(5) Ibidem, 24.
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HELENA FRANCO
2008-4-19

sexta-feira, abril 18

Porquê é que foi escrita esta Carta aos Gálatas?

Muitos estudiosos acreditam que a carta foi escrita para os Gálatas étnicos no norte.Se de facto este ponto de vista estiver correcto, Paulo provavelmente escreveu a carta depois de passar pela Galácia e Frígia(Act18,23) na sua terceira viagem missionária. Muitos que seguem a teoria do norte da Galácia acreditam que Paulo escreveu a carta ou durante a sua estadia de dois anos em Éfeso(Act19) ou quando estava viajando através da Macedónia, indo a Grécia no final da sua terceira viagem missionária(Act20,1-6). Assim, se isto for correcto, a carta aos Gálatas foi escrita provavelmente em 54 ou 55 d.C.. Teorias que datam a carta durante a parte final do ministério de Paulo têm o mérito de colocar Gálatas algumas questões de preocupação comum.
A Carta foi escrita para responder a problemas específicos em determinadas igrejas.Para entender a carta é preciso ter algum conhecimento sobre a situação que levou Paulo a escrevê-la.Não muito depois dos gálatas terem aceite o evangelho, surgiram agitadores entre eles que atacavam a Paulo pessoalmente e pregaram uma forma distorcida de cristianismo. O seu evangelho requeria a circuncisão para a salvação. Já que os gálatas eram gentios incircuncisos, os agitadores insistiram que os gálatas não só acreditassem em Cristo para sua salvação, mas também aceitassem a circuncisão.
O zelo desses agitadores provavelmente reflecte a pressão judaica, assim como o seu próprio orgulho.Eles tentavam converter os gálatas para o judaismo sob pressão de grupos judeus nacionalistas da Judeia, que conforme o historiador judeu Josefo, estavam se tornando cada vez mais intolerantes no contacto entre judeus e gentios durante a segunda metade do primeiro século.
Os agitadores não estavam satisfeitos somente em pregar o seu tipo de evangelho. Eles também tentaram desacreditar a Paulo, que havia fundado as igrejas da Galácia. Os seus ataques vinham de três frentes: Primeiro, eles alegavam que Paulo era um rebelde que tinha desafiado os seus superiores, apóstolos de Jerusalém. Paulo responde a este ataque(Gl 1,11)Segundo eles diziam que Paulo havia recentemente discutido com Pedro sobre se o evangelho requeria que os gentios se tornassem judeus para que pudessem se tornar cristãos. Paulo dá sua versão do encontro com Pedro em Gl2,11-14.Terceiro os agitadores espalharam a noçaõ de que Paulo havia originalmente pregado a circuncisão antes da salvação(Gl5,11) mas que tinha recentemente mudado o seu evangelho para que pudesse acomodar com maior facilidade os gentios.
O propósito de Paulo escrever era o de persuadir aos Gálatas de que nenhum gentio precisa aceitar a circuncisão para pertencer ao povo da aliança divina. A verdade do evangelho é que o acesso à comunhão com o povo de Deus vem da fé em Jesus Cristo. Qualquer um que busque violar esta esfera sagrada de fé, adicionando outros elementos, estará adulterando o evangelho e deve ser resistido a todo o custo. Para tornar o seu argumento mais persuasivo, Paulo tinha que demonstrar que os rumores sobre ele eram falsos, e que tanto o seu evangelho como a sua autoridade para pregá-lo vinham do próprio Deus. (1,11;2,14).

quinta-feira, abril 17

Caríssimos celtas (Parte I)

A Carta aos Gálatas é o único escrito circular de São Paulo, pois ele escreve às distintas comunidades locais (que não sabemos quais) de uma mesma região, a Galacia, situada a nordeste do império romano. Sendo uma terra inóspita e árida, nenhum diplomata queria exercer o seu cargo aqui, sobretudo devido ao facto de ser povoada por populações bárbaras e estar constantemente à mercê de pilhagens. Era tal a belicosidade deste povo que muitas vezes foram usados por um ou outro príncipe como tropa mercenária. Somente em 186 a.C., por imposição do cônsul romano Vulsón, é que se sedimentou as bases de uma futura região sedentária e com estruturas políticas organizadas. Assim, o tetrarca, sob orientação de Roma, paulatinamente, submetendo a população nativa e pacificando os povos vizinhos, organizou devidamente a região, granjeando a estima de Roma. Tal facto fez com que, mais tarde, em 25 a.C, se tornasse província romana, recebendo o nome de Galacia e estendendo o seu horizonte territorial muito para além da antiga região de assentamento celta. Tudo isto foi possível devido à morte do último rei de gálatas, o que fez com que esta região composta inicialmente por Celtas da Ásia menor, se mesclasse com outros povos e culturas. A forte influência helenista fez com que o povo originário perdesse as suas tradições ancestrais; os deuses gregos e os cultos helenísticos impuseram-se de tal ordem que ou houve uma mistura de tradições ou os cultos antigos simplesmente desapareceram.
Depois desta contextualização, é possível, sempre na base da hipótese, pensar que Paulo escrevera não a comunidades da província romana da Galacia, mas concretamente à população de assentamento celta, isto é, a comunidades da Galacia do norte, espalhadas por Halys, Tavium e Pesinunte.

A imprevista missão na Galácia

A própria carta de Paulo aos Gálatas apresenta-se a si mesma como uma circular destinada «às igrejas da Galácia» Gal. 1, 2). Normalmente o Apóstolo dirige-se à igreja de Deus que se encontra em determinada cidade. A falta de uma localidade no endereço faz-nos pensar que, na Galácia, não havia senão pequenas comunidades dispersas, mas em relação umas com as outras.
Nos Actos dos Apóstolos, Lucas limita-se a dizer que Paulo atravessou a «região da Galácia» (Act. 16, 6, corresponde à primeira viagem missionária; 18, 23, que corresponde à terceira).
Todavia, Paulo fornece-nos preciosas indicações:
A intenção do Apóstolo era ir direito a Éfeso, através da grande estrada do interior que segue o vale da Mísia, contudo Paulo percorreu a Frígia e a Região da Galácia (Act.16,7), Com efeito, no séc. III a.C. as tribos celtas, depois de terem pilhado Delfos, passaram o Bósforo e instalaram-se nas altas planuras da àsia Menor, na região de Ankara. O seu último rei Amintas legou os seus estados a Roma que aumentou a província da Galácia com as regiões limítrofes: Pisídia, Frígia, Licaónia... Visto que na carta Paulo se dirige aos fiéis chamando-lhes de Gálatas (3,1), erstamos certos de que ele percorreu o centro do país e não somente a Pisídia e a Licaónia, que tinha evangelizado aquando da sua primeira viagem.
Preocupado em pregar o Evangelho nas grandes cidades, Paulo não tinha a intenção de se demorar nos pequeno aglomerados gálatas. Porém, uma grave doença contrariou os seus projectos (Gál. 4, 14).
A doença de Paulo não impediu os seus hóspedes de prestar atenção ao pregador. Contudo, nesse tempo, a doença aparecia como um mal provocado pelos demónios, de quem era preciso resguardar-se (4, 14). Longe de dar tal prova de desprezo, os Gálatas comoveram-se com a pregação de Cristo crucificado (3,1) e a sua conversão entusiástica foi assinalada por múltiplas intervenções do Espírito (3,2). Esta é uma missão imprevista que Paulo recorda com muita emoção (3, 1-5).

A minha comunidade é a Carta aos Romanos

A carta aos romanos é, não apenas o mais extenso dos escritos paulinos, mas também aquele que mais foi comentado ao longo da história da Igreja e que maior influência exerceu sobre a teologia. Ela é sem dúvida, a mais rica e mais bem estruturada das cartas de Paulo e contém, de certo modo, o núcleo fundamental do seu pensamento. A comunidade cristã de Roma.
Portanto, não possuímos muita informação sobre a comunidade cristã de Roma, na altura em que Paulo lhe dirige esta carta, mas o conhecimento da história da cidade e os elementos deduzidos da própria missiva fornecem-nos alguns dados informativos, que são úteis para a compreensão da carta.
Podemos concluir que não são conhecidas as circunstâncias em que surgiu a comunidade de Roma, nem quem a fundou, mas Paulo afirma que já uma comunidade bem conhecida em todo o lado. “Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo, pois a vossa fé é proclamada em todo o mundo” (Rm 1,8).

Quem são os «santos em Cristo Jesus que estão em Filipos» (Fl 1,1)?

A expressão está no endereço da carta e refere-se à eleição divina de que a comunidade fora objecto. Eles vivem numa cidade situada num antigo pântano que Filipe II da Macedónia mandara drenar para aí construir, a partir da antiga Krenides, um baluarte contra os trácios ao qual deu o seu nome. Mais tarde, após uma grande batalha de Marco António e Octávio contra os assassinos de César, Augusto fez dela uma colónia militar romana bem defendida; estava na Via Egnatia, por onde se circulava de Roma para Bizâncio; era rica em madeira (útil para os barcos) e tinha uma planície muito fértil; fora rica também em ouro e prata, mas estas riquezas estavam em declínio ao tempo de Roma. Os cidadãos tinham o direito à auto-administração, não pagavam o tributo a Roma e eram também cidadãos da Itália, privilégios habituais nas colónias de veteranos do exército imperial. A população autóctone não fora expulsa, continuando a falar o grego apesar de o latim ser o idioma oficial da cidade
Quando Paulo aí chega, em 48 d.C., Filipos tinha ainda o estatuto de colónia e era a primeira cidade do distrito da Macedónia (cf. Act 16,12). Havia uma pequena comunidade judaica, sem direito ou pelo menos sem condições materiais para ter uma sinagoga, possuindo apenas um lugar de culto nos subúrbios.
A comunidade cristã à qual Paulo escreverá cinco anos depois (e não só, pois pode ser que Filipenses esteja composto de duas ou até três cartas diferentes) não parece ter muitos judeus, mas pricipalmente pagãos convertidos – é o que se infere a partir da citação dos nomes helenístico-romanos de Epafrodito, Evódia, Síntique, Clemente, e das palavras de Paulo em 3,2s; Act 16 corrobora esta ideia, pois apenas refere como convertidos a casa de Lídia (uma abastada comerciante, temente a Deus e não judia) e a casa do carcereiro (funcionário certamente pagão), e como seguidora uma jovem criada, adivinha por sinal.
Estes pagano-cristãos apoiarão Paulo em Tessalónica (cf. Fl 4,15s) e Corinto (cf. 2Cor 11,9); trata-se certamente de uma comunidade generosa e agradecida a Paulo, com uma boa organização. Já vimos, a partir de Act, que tem irmãos de vários estratos sociais; alguns dizem que, dado terem contribuído monetariamente por várias vezes para a missão paulina, deveriam ter um certo desafogo financeiro, ou ser até uma comunidade rica. Mas o facto de serem perseguidos e de Paulo se referir a eles como estando na pobreza (cf. 2Cor 7, 1-2) leva a rejeitar essa ideia. Provavelmente, o discernimento que tiveram acima de todas as igrejas acerca da impossibilidade prática de Paulo se sustentar autonomamente (apesar de ser esse o seu desejo), a gratidão para com ele, e a comunhão experimentada desde o primeiro momento no anúncio do Evangelho, levaram a que, sempre que conseguiam juntar algo (talvez através dos «epíscopos e diáconos» [1,1]), o enviassem ao apóstolo por meio de emissários (como Epafrodito) que dariam apoio a Paulo também na evangelização.
Sofrem duras perseguições de adversários externos, provavelmente pagãos da cidade – talvez os mesmos que levaram a que Paulo fosse preso aí, devido à expulsão de um demónio que possuía a jovem adivinha certamente ligada às superstições romanas (cf. Act 16); o mesmo Paulo proclama em Fl 2,11 que «Jesus Cristo é Senhor (Kyriós)», título reservado ao Imperador, dando a entender o tipo de acusação que poderia ser feito pelos cidadãos aos cristãos locais (a não adoração do César como Kyriós).
Vemos que na comunidade há mulheres que participaram na evangelização, como Evódia e Síntique, desafiando certamente a hostilidade do ambiente; estas duas poderiam chefiar igrejas domésticas que se reuniriam nas suas casas (pode até dar-se o caso de alguma delas ser a Lídia de Act 16), parecendo ter entre si uma certa rivalidade. O hino do cap. 2 apela possivelmente à reconciliação de ambas, cortando o espírito sectário e as expressões de superioridade que poderiam estar a germinar entre os discípulos de Filipos; a humildade a que chama é pouco apreciada no ambiente helénico no qual estes tinham sido educados. Os pagãos preferem um certo judaísmo que opera prodígios e curas, o dos judaizantes que se criam já «perfeitos» (Fl 3, 15) e por aí tentariam atrair a atenção dos cristãos filipenses.
No entanto, é quase certo que os intentos deles não deram resultado, porque 50 anos mais tarde S. Policarpo chamará aos Filipenses uma «comunidade tipicamente paulina» (cf. Ad Fil. 1,2; 3,2; 11,3).

Bibliografia:
· Jürgen BECKER, Pablo. El apóstol de los paganos, Salamanca, Ediciones Sígueme, 1996.
· Giuseppe BARBAGLIO, As Cartas de Paulo (II), São Paulo, Edições Loyola, 1991.
· Miguel de BURGOS NUÑEZ, Pablo, predicador del Evangelio, Salamanca – Madrid, San Esteban – Edibesa, 1999.
· Jerome MURPHY-O’CONNOR, Paulo. Biografia crítica, São Paulo, Edições Loyola, 2000.Jordi SÁNCHEZ BOSCH, Escritos Paulinos, Estella (Navarra), Editorial Verbo Divino, 1999.

Qual o sentido do apocalipse?

Obra: J. Ellul, “Apocalipse- Arquitectura em movimento”, Edições Paulinas, 1990, Pp. 53-59.
Será que o apocalipse tem um sentido, tema ou conteúdo?
A resposta pera esta questão é diversificada perante os autores.
1na lógica apocalíptica o autor defende que obra de Deus chegou ao seu termo, o Cristo triunfa e o seu reino é inaugurado. Jesus nos é apresentado como o único Salvador e Senhor. A Igreja é vista como aquela que está associada ao seu Senhor, resgatada pelo seu sangue, e ela inaugura o Reino de Deus. Há uma relação entre Cristo (como profeta) e Igreja como (comunidade santa) exercendo a função de profeta que é Cristo. Cristo é vencedor e ressuscitado e a Igreja já participa nesta vitória conhecendo os primeiros sinais de ressurreição.
Assim, a Igreja vive no tempo presente os diversos aspectos dos mistérios de Cristo, então, a Igreja deve dar o seu testemunho no mundo que não reconhece Deus. Apesar de ela sofrer tem garantia da glória celeste.
Perante esta leitura simbólica apocalíptica os alguns autores defendem que o apocalipse não pode ser reduzido nalgumas verdades do catecismo, porque qualquer redução pode fazer perder radicalmente a sua existência. O Apocalipse tem o seu centro na Soberania de Jesus Cristo, mas esta afirmação da Soberania de Deus é em si mesmo um mistério.
Há autores que entendem o apocalipse como o livro de esperança cristã, este entendimento não deve ser simplista; nós acreditamos no perdão na ressurreição, logo, esperamos ressuscitar, ou seja, a esperança tem a ver com o crer em Jesus Cristo como Salvador. A esperança também é da ordem do inacessível, a esperança só se entende vivendo, ela existe quando uma situação humana não tem saída…a esperança consiste em fazer história na dúvida.
É no silêncio de Deus que a esperança continua a afirmar que a promessa «já» é a realização que, mesmo quando não o possamos ver, não existe nenhuma distância entre uma palavra de Deus e um Acto de Deus. «A esperança preenche o vazio entre o que recebemos historicamente como promessa e o que esperamos historicamente como realização.
O Apocalipse, como esperança parte do fim. Ou seja, a Esperança parte do real não realizado de forma concreta, ela é afirmação das coisas últimas neste tempo, como, como o apocalipse é actualização das coisas últimas, a esperança é o que o apocalipse nos revela. A esperança no apocalipse é aquilo que se declara sobre o presente, «não, não é o Reino de Deus, nem o reino de Cristo», mas exige que o cristão se situe no presente em função deste Reino.

Górgias e Sócrates num cocktail

Sócrates representa o amor à verdade e Górgias representa o amor à linguagem. Paulo ama ambas: entende a linguagem como o veículo digno da verdade, que lhe dá beleza, corpo e tentáculos que sugam o que no homem há de fascinável. A retórica comporta em si um tipo de sedução que consegue entrar e circular nas veias de sentido. Mas, ao contrário de Górgias, a linguagem só encontra a sua dignidade se for verdadeira. Enquanto que numa perspectiva gorgiana a retórica funciona como maquilhagem, que a qualquer rosto podem pintar e fazer parecer mais atraente, do ponto de vista socrático a verdade é a carne e os traços do rosto, na sua nudez. Para Paulo a verdade é um rosto mas enquanto retrato: a retórica são as tintas do pintor que expõe o rosto reconstruindo-o.

Sócrates e Górgias, a certa altura do seu diálogo, concordam em definir retórica como “obreira da persuasão que gera a crença – (do grego doxa – a opinião), não o saber” (Górgias 455a). Com esta definição ocorre uma separação entre verdade e retórica, que Sócrates vê como muito negativa e Górgias compreende como natural. Paulo como que volta atrás e redifine retórica: para ele é a obreira da persuasão, mas da persuasão da verdade. Desta forma fá-la reactora da atracção de Cristo.

quarta-feira, abril 16

Os primeiros cristãos da Galácia

A região da Galácia que Paulo primeiro evangelizou é a que situa mais a sul em torno ao lago de Egherdir e as cidades de Antioquia da Pisídia, Icónio, Listra e Derbe. Os habitantes desta região eram descendentes dos gauleses, mas falavam grego. Neste território existiam várias colónias romanas, uma delas era a da cidade de Antioquia da Pisídia. O culto principal da cidade e por toda a região era o do deus Lunus ou Men era provavelmente uma mistura entre o culto celta, a mitologia grega e os cultos de Baal.
Nesta cidade o principal negócio era curtição do couro. Os judeus desta cidade, como noutras, gozavam de muitos privilégios desde a época de César e eram em geral comerciantes e negociantes prósperos. Às suas sinagogas dirigiam-se, não só os judeus, mas também os prosélitos ou tementes a Deus, na sua maioria tanto uns como outros eram helenistas de cultura.
Na sua missão o Apóstolo Paulo dirigiu-se primeiro as estas comunidades de judeus de classe média. Eram sem dúvida gente culta e bastante civilizada pois próprio o judaísmo a isso os obrigava. Por outro lado o grego utilizado por Paulo denota bastante erudição que as comunidades, podemos supor, também teriam. Daqui podemos inferir que às comunidades cristãs também deviam pertencer pessoas do mesmo meio, até porque durante muito tempo cristãos e judeus foram confundidos, o que parece sugerir que socialmente essas comunidades eram muito parecidas. Por outro lado sabemos que Paulo e Barnabé pregaram também aos mais pobres Act 14, 6-10. Assim, podemos dizer que nas comunidades cristãs primitivas da Galácia existia um corte transversal da sociedade.

Bartolomeu Mota

«Hebreu, filho de Hebreus»

São Paulo não nos fala da sua infância nem da sua educação judaica em Tarso, mas na epístola aos cristãos de Filipos (3, 5) apresenta-se como um autêntico filho da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus, circuncidado ao oitavo dia. Estes dados, juntamente com a doutrina das «Sentenças dos Padres» que ensinavam aos pais como deviam educar os seus filhos, permitem-nos conhecer a educação familiar e religiosa dos judeus na diáspora.
As comunidades judaicas espalhadas pelo império romano eram mais numerosas que a população residente na Palestina. Os judeus encontravam-se em todas as cidades importantes, mas não se misturavam com as outras raças para não se contaminarem com a sua doutrina e culto. A família de Saulo falava em casa o aramaico, língua corrente no tempo de Jesus, conhecia o hebraico usado na liturgia e orações.
Os judeus tinham uma excelente educação familiar, como ainda hoje, o que constitui um dos segredos da sua força. Através das «Sentenças dos Padres» conhecemos a educação religiosa que os judeus davam aos seus filhos.
Aos cinco anos os meninos hebreus aprendiam a parte essencial da Torah, os capítulos 5º e 6º do Deuteronómio, o grande Hallel, constituído pelos salmos 113 a 118 que se cantavam nas festas e reuniões das sinagogas.
O jovem Saulo deveria sentir este culto muito estranho, ele que adorava o Deus dos seus pais que não tinha estátua e cujo nome era tão santo que a boca humana não o devia pronunciar.
Os Actos dos Apóstolos descrevem o sofrimento de Paulo ao atravessar a Grécia: «Enquanto Paulo esperava em Atenas (Silas e Timóteo), o seu espírito afligia-se no seu interior vendo aquela cidade cheia de ídolos» (Act. 17, 16).

terça-feira, abril 15

Paulo e os Coríntios – Formação da comunidade

Corinto significa o ponto mais alto da segunda viagem apostólica de Paulo. Tendo de sair precipitadamente de Tessalónica e depois de uma curta paragem em Bereia, de onde tem de partir, de novo à pressa, deixando Timóteo e Silvano (Silas), devido a uma nova conjura dos Judeus (Act 17, 5-10), Paulo demora-se algum tempo sozinho em Atenas, onde, no areópago, pronuncia um discurso que não tem grande êxito (Act 17, 16-34).
Decide então ir para Corinto, ficando a habitar com um casal de Judeus, Áquila e Priscila, fabricantes de tendas, como ele próprio. Áquila e Priscila tinham acabado de chegar de Roma, de onde tinham sido expulsos pelo édito de Cláudio (Act 18, 1-4). Com a chegada de Timóteo e Silvano, Paulo dedica-se mais intensamente à pregação na sinagoga, mas, perante a recusa e blasfémias do Judeus, sacode contra eles as sandálias declarando, “que o vosso sangue caia sobre as vossas cabeças; eu estou inocente. A partir de agora, vou dirigir-me aos pagãos” (Act 18, 6). Apesar de tudo, um bom número de Judeus aderiu à mensagem de Paulo, entre os quais Crispo, o chefe da sinagoga (Act 18, 8). Paulo passa a residir então em casa de um prosélito, Tito Justo, de onde se dedica, com sucesso, durante um ano e meio, à pregação entre os pagãos, provavelmente entre o Outono de 50 e a Primavera de 52 DC.
Desencadeia-se, então, contra ele, um violento ataque dos Judeus, que o levam diante do procônsul Galeão, irmão mais velho de Séneca, que recusa intervir na questão, por considerá-la um assunto religioso próprio dos Judeus. Passado algum tempo, Paulo despede-se dos irmãos, dirige-se ao porto de Cêncreas, onde embarca em direcção à costa da Palestina, juntamente com Áquila e Priscila, depois de ter cortado o cabelo, em força de um voto que tinha feito (Act 18, 18).
Dois dados da narração dos Actos permitem uma datação relativamente precisa da estadia de Paulo em Corinto: o édito de expulsão dos Judeus de Roma, que leva Paulo a encontrar-se com Áquila e Priscila em Corinto e que é habitualmente datado do ano 49 e o encontro com o procônsul Galeão, o dado mais seguro da cronologia Paulina, que se coloca na primavera de 52. Dado que, segundo os Actos, Paulo permaneceu ano e meio em Corinto, a sua estadia teve lugar entre o fim do ano 50 e meados de 52.
Ao partir, Paulo deixa em Corinto uma comunidade já muito numerosa e diversificada, formada sobretudo por cristãos provenientes do paganismo e pertencentes sobretudo aos estratos sociais mais humildes[1], embora a comunidade contasse também com um bom número de Judeus. Os vícios do paganismo, a sedução de uma cidade como Corinto, as dificuldades de harmonizar a vida de uma comunidade com uma proveniência tão diversificada dos seus membros, cedo levantaram problemas que levarão Paulo a escrever e a intervir directamente em Corinto.
As cartas aos Coríntios atestam um passo importante na difusão do cristianismo. Embora a igreja de Tessalónica estivesse situada numa cidade já importante, a comunidade de Corinto parece ser a maior jamais constituída numa grande cidade de mentalidade helenista, durante a época apostólica. É nela que se dá o grande encontro entre a mensagem evangélica e a sabedoria, a piedade e as sociedades típicas do mundo helenista romano. Daí também as dificuldades surgidas e a importância destas cartas de Paulo, destinadas a resolverem problemas e a traçar o caminho novo do evangelho, no ambiente cosmopolita de Corinto.
[1] Paulo refere-se várias vezes ao antigo modo de agir dos coríntios, quando estavam no paganismo (1Cor 8, 7; 12, 2), enquanto que dá claramente a entender que a generalidade dos membros da comunidade não pertence às classes cultas e abastadas: “Considerai a vossa vocação, irmãos: não há entre vós muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres” (Cor 1, 26)

A cidade de Corinto


A antiga e célebre cidade de Corinto foi conquistada pelos romanos em 146 AC que a destruíram completamente. Dado, porém, a sua importância estratégica, foi reconstruída por Júlio César em 46 AC e transformada na capital da província da Acaia em 27 AC, conhecendo, a partir daí, um grande desenvolvimento, que fez dela uma das principais metrópoles do império.
A cidade devia a sua importância ao facto de ficar estrategicamente colocada entre dois mares e de ser servida por dois portos, Lecaio a ocidente, ligando-a ao mar Adriático, através do Golfo de Corinto e Cêncreas, a oriente, sobre o mar Ageu. Um sistema de transportes permitia a transferência de mercadorias e navios de um para outro porto, evitando a circum-navegação do Peloponeso (constitui uma larga península no sul da Grécia). Corinto era uma cidade cheia de movimento e ponto de encontro de todas as culturas e religiões do Mediterrâneo, contando, no inicio da nossa era, com uma população de cerca de 500.000 habitantes, uma boa parte dos quais escravos ou libertos que constituíam as classes menos favorecidas.
A vida em Corinto era conhecida em todo o império pelo fausto e licenciosidade dos costumes, que tinham dado origem a sintomáticas expressões como “viver à coríntia” e “moça coríntia”. Particularmente famoso era o templo de Afrodite, a deusa do amor, à volta da qual se exercia a prostituição sagrada e cujas festividades davam azo a grandes orgias. Estrabão (historiador, geógrafo e filósofo grego) fala de mil sacerdotisas que se dedicavam à prostituição sagrada, embora esta cifra seja considerada exagerada pelos historiadores.

Comunidade de Corinto

Passado algum tempo de reflexão, anuncio solenemente, que escolhi a comunidade de Corinto como aquela sobre a qual me proponho trabalhar.

Carta de Paulo aos Gálatas

Quando a Boa Notícia do Evangelho se espalhou pelo império romano e muitos não judeus começaram a aceitar Jesus como Salvador, surgiram logo discussões sobre a necessidade de os não judeus seguirem as leis dos judeus especialmente a que mandava que todo homem fosse circuncidado. Essa mesma discussão apareceu nas igrejas que o apóstolo Paulo havia fundado na província romana de Galácia, que ficava numa região que hoje faz parte da Turquia. Várias pessoas estavam dizendo àqueles cristãos que eles precisavam obedecer à Lei de Moisés para poderem ser aceitos por Deus. A carta aos Gálatas é a resposta que Paulo dá a essa falsa doutrina. Com argumentos fartos e palavras às vezes chocantes, Paulo denuncia esse outro “evangelho” que está sendo anunciado e procura trazer de volta à fé verdadeira aqueles que estão se desviando do caminho certo. Ele fala de sua própria experiência cristã e defende a sua autoridade como apóstolo. Mostra também como, na reunião dos líderes cristãos em Jerusalém, ele tinha recebido a aprovação deles para continuarem a anunciar a mensagem de que a salvação depende somente da fé e não daquilo que a Lei de Moisés manda dizer. Em defesa da sua posição Paulo cita o Antigo Testamento e fala da experiência de Abraão, o pai do povo escolhido. Ele mostra que Abraão foi aceito por Deus não por causadas das obras, mas por causa da sua fé. Na última parte da carta Paulo fala da liberdade que têm aqueles que crêem em Cristo e como essa liberdade se torna realidade na vida cristã. Todos os cristãos de todos os tempos devem se lembrar sempre desta declaração do apóstolo. “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres. Por isso, firmes nessa liberdade e não se tornem novamente escravos”.

segunda-feira, abril 14

OCASIÃO, DATA E AUTENTICIDADE DE 1 TESSALONICENSES

Segundo a indicação de 1Tes 3,6, a carta foi escrita logo após a chegada de Timóteo, que viera de Tessalonica, quando os três missionários se achavam juntos (1,1) e o espírito de Paulo, que há meses sofria com a recordação da partida forçada de Tessalonica, da separação da novel comunidade, e apreensivo pelas dificuldades em que se encontrava o Evangelho na Macedónia, exultou de alegria com as notícias tranquilizadoras sobre o comportamento exemplar da comunidade. A carta, de maneira semelhante à segunda, tem a forma exterior de um escrito colegial; mas tanto a iniciativa como a responsabilidade da mesma (Cf. 2,18; 3,5; 5,27) se acham ligadas claramente a Paulo. Tudo nos leva, portanto, a Corinto, e precisamente aos primeiros tempos de permanência na cidade, mas provavelmente quando já se dera a ruptura com os judeus.
[Mas em que ano chegou Paulo a corinto? O problema não diz respeito só à datação de nossa carta, mas abrange toda a cronologia da segunda viagem missionária. A chave dessa cronologia é nos oferecida, com efeito, pelo encontro, relatado nos Actos, de Paulo com o procônsul Galião, irmão mais velho de Sêneca. O encontro deve ter-se dado em 51 ou mais provavelmente em 52. Assim como Paulo encontrou o procônsul após 18meses de permanência em Corito (como parece resultar de Actos 18,11), a chegada do Apóstolo à cidade se aproximaria do final do ano 50. Teríamos, portanto, a seguinte cronologia geral: primeira metade do ano 50: missão em Filipos, Tessalonica, Beréia; segunda metade de 50: Atenas e Corinto; final de 50 ou início de 51: chegada de Silas e Timóteo e primeira carta aos Tessalonicenses. Assim, quase unanimemente pensa a crítica, oscilando entre 50 e 53, conforme tenha optado a respeito do proconsulado de Galião.]
A autenticidade da primeira carta é admitida hoje unanimemente pelos estudiosos; negá-la equivaleria, segundo Frame, a “afirmar que Paulo jamais existiu, ou que até nós não chegaram seus escritos”. Ideias, estilo, vocábulos são claramente paulinos. “Característicos dele e desta carta são um cálido afecto pelos convertidos, confiança neles não obstante a brevidade das relações, tanto em tratar delicados problemas pastorais, consciência do próprio direito do apóstolo e renúncia a isto no amor, senso de familiaridade com os leitores em todas as coisas e apelo à sua simpatia e oração”. É irrefragável o testemunho da tradição. MARCIÃO, em 144, admitia 1Tessalonicenses em seu elenco; o Cânon muratoriano atesta-a em Roma na segunda metade do século II; pela mesma época conhecem-na IRENEU (200) na Gália, CLEMENTE em Alexandria (antes de 215), TERTULIANO (220) na África.

A 1ª Carta aos Coríntios

O texto desta carta apresenta uma introdução (1,1-9); uma secção sobre os vícios a corrigir (1,10-6,20); resposta a várias questões dos coríntios (7,1-15,58) e uma conclusão (16,1-24).

Trata-se de uma carta de relevante importância, considerando os comportamentos desviantes que se estava a verificar com alguns irmãos da comunidade:
• divisões e tensões internas;
• vida sumptuosa de alguns irmãos ricos e que eram ocasião de escândalo para os irmãos pobres;
• casos de imoralidade sexual;
• presença de irmãos em tribunal;
• carne oferecida aos ídolos;

É uma carta polifacetada, centrada não só nas questões éticas, mas também nas doutrinais, tais como:
• os carismas;
• Cristo crucificado, como mensagem central do Evangelho (1,23);
• a caridade como o caminho cristão “que ultrapassa todos os outros” (13);
• o relato da Última Ceia (11,17-34)
• a ressurreição futura dos cristãos (15);

Pode-se afirmar que se trata de uma “carta pastoral”, uma vez que Paulo parte de realidades concretas que ilumina com a doutrina e as quais orienta através da exortação. Em torno de linhas temáticas como a da Unidade e a da Santidade, combinam-se secções narrativas, doutrinais e exortatórias.

O carácter epistolar do texto é evidente no início (saudação e acção de graças) bem como no fim.

Esta 1ª Carta aos Corintios poderá ter sido redigida por volta de 54-55.

Comunidade de Corinto

Paulo terá chegado a Corinto – cidade muito desenvolvida e com grande influência nas rotas comerciais, mas também marcada por muitos desregramentos – cerca do ano 50.

Segundo Actos 18,1-18, Paulo prega o Evangelho em Corinto durante a sua segunda viagem missionária, tendo aí convertido muita gente, especialmente junto das camadas mais pobres (1 Cor 1,26-28) durante cerca de ano e meio (Actos 1,11).

Se, inicialmente, é na Sinagoga que usa da palavra, após alguns incidentes e oposição por parte dos judeus, deixa-a a e vira-se mais para os gentios.

Nasce, assim, a comunidade cristã de Corinto – comunidade muito activa e florescente composta, na sua maioria, por convertidos do paganismo.

Contudo, cedo começam a surgir tensões e contendas que provocam divisões entre os irmãos. Eram cometidos abusos de vária ordem, gerando-se incertezas quanto aos procedimentos e ordens a seguir.

Sendo Corinto uma cidade cujo ambiente era “hostil” à observância dos valores evangélicos, facilmente a nova comunidade corintiã se deixava influenciar.

De Éfeso, aquando da sua terceira viagem missionária, Paulo, depois de ter sido informado dos problemas que se estavam a viver na comunidade de Corinto, escreve-lhes uma 1ª Carta com o objectivo de corrigir comportamentos apresentando, com autoridade, normas conducentes à resolução de cada situação desviante do bom caminho.