sábado, fevereiro 16

Uma vida para o AMOR

Falar de S. Paulo é falar das origens.
Quando penso em S. Paulo lembro-me de alguém com uma enorme força de espírito e uma grande fé. Por isso vejo Paulo como uma figura tocada e acariciada pela graça de Deus. Um verdadeiro louco por Deus. Nisto, vejo toda a sua missão numa enorme vontade anunciar a Cristo Ressuscitado. Sem dúvida que a Igreja que temos hoje deve muito ao anúncio eficaz e perseverante daquele que se sentiu tocado pelo verdadeiro Amor. Muito da sua estrutura, doutrina e pensamento se deve àquele que se deu por Aquele que um dia lhe apareceu a caminho de Damasco. Definitivamente, este acontecimento foi o ponto de partida, sem retorno possível, que culminou naquilo que nos foi dado a conhecer. A sua perseverança motivação, empenho pastoral devem ser para nós exemplo e caminho a seguir.
Falar de Paulo é falar-se de um homem enigmático, mas é ao mesmo tempo deixar-se fazer a experiência do Amor.

Vocação cristã de S.Paulo

Neste página, queria realçar que no itinerário da vida do Paulo, o que m'e impressinante é a sua vocação. Ao como é que Paulo encontro o Senhor.O encontro de Paulo com Cristo no caminho de Damasco não é somente, mas também uma conversão, mas uma iluminação, uma vocação e uma eleição. Os actos dos Apóstolos apresentam-nos três narrativas da conversão de S. Paulo: 9,3-19; 22,6-16; 26,12-18. Paulo descreve a sua experiência com linguagem de vocação profética, como uma revelação, ou como uma criação da luz no primeiro dia (2Cor 4,6). Por sua vez, Lucas transmite-nos um misto de história e de interpretação teológica, cujo tema dominante é a perseguição dos cristãos efectuada por Paulo e a localização dos acontecimentos em Damasco. Depois de se ter retirado da Arábia, (termo que designa o rei dos Nabateus, 2 Cor11, 32), o Apóstolo regressou a Damasco, onde se tornou anunciador de Cristo que ele perseguia quando era pagão
A ESPECIFICIDADE DO “LOUVOR DE GLÓRIA” PAULINO NA EXPERIÊNCIA ORANTE DE ELISABETH DE LA TRINITÉ

Elisabeth Catez (n. 1880) deixou de ver o mar que ela amava, para perscrutar os insondáveis mistérios de Deus. O seu nome de profissão carmelitana é Elisabeth de la Trinité; ela era enamorada por Cristo e apaixonada pela Trindade.

Mística do séc. XX, Elisabeth de la Trinité amava São Paulo.

O que ela sabia de São Paulo veio a ser uma parte importante da herança espiritual deixada não só ao Carmelo, mas também à Humanidade.

Com Hans Urs von Balthasar, sinto fascínio por uma Teologia que se faz para adorar e pela grande orante e contemplativa Elisabeth de la Trinité, que sabe suscitar a adoração. “Na adoração,” afirma o teólogo helvético, “a alma torna-se simples (…)”[1].

O sintagma “louvor da sua glória” sobressai no texto paulino. São Paulo afirma: “nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo” (Ef 1,11-12).

Elisabeth de la Trinité sente-se provocada por aquele que considera instruído pelo próprio Deus, ou seja, por São Paulo. E permanece na linha paulina, quando, amorosamente, realiza o grande sonho de Deus e se torna “louvor de glória” da Santíssima Trindade, a partir da transformação em Jesus Cristo.

São Paulo inspira Elisabeth de la Trinité quanto à Cristologia, na qual sublinha a identificação com Jesus Cristo, mesmo na vertente da predestinação divina que ela adoptou. Ele afirma: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29).

É também São Paulo que inspira Elisabeth de la Trinité, ao ela não querer reconhecer o Filho segundo a carne, mas espiritualizado e glorificado, sendo revelado pelo Espírito Santo nos sacramentos, principalmente na Eucaristia, e na in-habitação trinitária (2). São Paulo, tal como São João, é nutrido por uma mística cristológica e pneumatológica (3).

Elisabeth de la Trinité conhece, por meio de São Paulo, o mistério do Filho, ainda que a Santíssima Trindade a deixe profundamente abismada.

“Por uma noite pacífica, num profundo silêncio,
Eu deslizo docemente sobre o oceano imenso.”

(1) Cf. BALTHASAR, Hans Urs von, Elisabeth de la Trinité et sa Mission Spirituelle, Seuil, Paris,1959, p 153
(2) Ibidem, p 168.
(3) Ibidem, p 173.


FONTE: Novo Testamento Interlinear Grego-Português, Sociedade Bíblica do Brasil, SãoPaulo, 2004
BIBLIOGRAFIA: Elisabeth de la Trinité – Oeuvres Completes, Cerf, Paris, 1991; BALTHASAR, Hans Urs von, Elisabeth de la Trinité et sa Mission Spirituelle, Seuil, Paris, 1959.


HELENA FRANCO
2008-02-16

Quem é Paulo e como ler as suas cartas hoje?

Quem é Paulo e como ler as suas cartas hoje?
Paulo pode ser entendido de várias formas, não só pela sua conversão mas também pela sua inteligência de transmitir o essencial da fé cristã, que se radica naquele que é a Revelação plena (Jesus Cristo); 1 Cor 1, 18 diz: “Enquanto os Judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os Judeus e loucura para os gentios”.
É preciso entender Paulo não só como homem de fé mas também alguém capaz de ler a sua fé tendo em conta a realidade que o envolve. Paulo foi um Judeu nascido fora do espaço da Palestina, conviveu com os gentios. Foi educado em Jerusalém dentro de uma tradição; ele teve o mesmo paixão pela Torah…Paulo foi um homem inteligente e a sua inteligência te, a ver com o seu meio, ou seja, é herdeiro do mundo helenístico, conviveu com os estóicos.
É preciso ler o mundo de Paulo para entendermos melhor as suas cartas, e ter em conta o seu ambiente urbano. Como dizia o professor Tolentino em Actos, “é preciso sermos leitores competentes”. Esta competência tem a ver com a procura, entendimento do meio em que Paulo viveu e conviveu.
Paulo escreveu as suas cartas num ambiente difícil e isso fez com que ele tivesse um programa na sua escrita; então qual é a finalidade das suas cartas? Em Paulo tem acto de fé que lhe faz ser fiel, é herdeiro de uma tradição. (1 Cor 15, 3-5) “Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados…”.
Por isso, não é fácil entender Paulo, mas o nosso esforço de entende-lo passa por esta leitura de uma fé inteligente.

quinta-feira, fevereiro 14

DO AMAR AO CONHECER PAULO DE TARSO - NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS

Baptizatus sum – sou baptizada. Posso contar que a água do Baptismo foi derramada sobre a minha cabeça, sob o olhar de São Paulo, patrono da Paróquia onde recebi uma nova identidade – a Paróquia de São Paulo.

Deixei de ser somente filha de meus pais e de pertencer somente a eles. Sou, desde o dia 8 de Dezembro de 1965, filha de Deus e pertenço-lhe. São Paulo viu-me renascer para a vida eterna e tornar-me participante na divindade de Deus.

Celebrado no meu pequeno grupo familiar, o meu Baptismo significou a minha inserção na comunidade da Igreja. Igreja, no papado de quem em Fátima fez o apelo: “HOMENS, SEDE HOMENS!”. O papa Paulo VI indicou o que veio a ser o meu programa de vida, desde a minha adolescência, nos anos 80: ser plenamente humana. E o seu papado era marcado pela figura de Paulo, apóstolo arrebatado pelo amor de Cristo.

Em 1985, pude escutar uma conferência sobre os jovens proferida por D. José Policarpo, que guardei na minha memória de adolescente e de adulta. Ele referiu-se aos jovens como apostas de Deus e às estradas de Damasco em contraposição às estradas de Emaús. Desde então, acrescentei ao meu programa de vida o programa do seguimento de Jesus Cristo, tendo Paulo de Tarso como protótipo do seguimento.

Conheço, desde 1985, um cântico alusivo ao discurso paulino, que frequentemente me ponho a trautear. Tal cântico resume tudo o que sobre Paulo de Tarso – neste preciso instante - posso saber/saborear.

Já não sou eu que vivo
É Cristo que vive em mim
Se Deus está comigo
Quem virá opor-se a mim?

Eu estou feliz
Na lei do meu Senhor
É Jesus Cristo
O meu libertador

Não. Nada me afastará
Do meu rei e Senhor
Nem a vida, morte ou poder
Nada apagará
Esta vida que está em mim
Do meu Senhor


HELENA FRANCO
2008-02-14

Paulo hoje desperta as consciências ou não?

Como é que são vistas as cartas de Paulo nas nossas pequenas comunidades cristãs? Paulo mexe connosco ou não?

Paulo hoje desperta as consciências ou não?

Como é que são vistas as cartas de Paulo nas nossas pequenas comunidades cristãs? Paulo mexe connosco ou não?

Corpus Paulino

Não sabemos ao certo quem e como se fez a colecçâo do chamado corpus paulino.....
Quero saber se essa proto-paulinas, Paulo escreveu após a sua conversão imediata de Damasco...
E como é que se explica da deutero-paulinas....

PAULO: primeiras impressões

O que é que sei de Paulo?

  • Era judeu e muito religioso.
  • Foi perseguidor de cristãos.
  • A caminho de Damasco, teve uma experiência de tal modo marcante que se converteu a fé que anteriormente perseguia.
  • Pregava com bastante convicção a fé em Jesus.
  • Empreendeu algumas viagens.
  • Fundou Igrejas.
  • Sofreu por causa da profissão da nova fé, nomeadamente a prisão.
  • Fundou novas comunidades, colocou responsáveis à sua [das comunidades] frente e escreveu muitas cartas quer às comunidades quer a esses responsáveis.
  • Foi julgado em Jerusalém pelo sinédrio e, no desenrolar do processo em Cesareia, foi para Roma prisioneiro a fim de ser julgado pelo próprio imperador.
  • Em virtude dessa situação, Paulo declarou-se como cidadão romano.
  • De acordo com a tradição, foi martirizado em Roma.


Impressões


Paulo é um exemplo de acolhimento da graça de Deus (que o transformou por completo). A experiência de encontro com Cristo ressuscitado impulsionou-o a anunciar desassombradamente Jesus Cristo e a amar profundamente a sua fé. Em consequência disso soube relativizar certos costumes das tradições dos seus pais e ter a sensibilidade de uma abertura da salvação aos pagãos.
É, por fim, o modelo de um cristão apaixonado e, como tal, verdadeiramente missionário.

Paulo de Tarso


Paulo de Tarso
[lenda ou verdade?]

Quando penso nessa figura singular, o que logo me vem á mente é o caminho de Damasco, onde ele recebe uma visão de Cristo que o lança por terra, cego, e se dá a grande Conversão. O homem que cai do cavalo, que passa de “perseguidor” para “perseguido”, um verdadeiro convertido e seguidor até á morte de Cristo morto e ressuscitado.
Não consigo ver o cristianismo sem Paulo. Pode ser um pouco exagero da minha parte. Mas, Paulo é uma das figuras fundamentais no cristianismo. Depois de Cristo é, sem dúvida, Paulo. Eu, daquilo que eu sei (ou ouvi) de Paulo não ouso pôr Pedro à frente de Paulo. Ele está na base fundante do cristianismo da origem. Está aí no meio (da confusão) dos “gentios”. É um homem de grande cultura, conhece o terreno onde pisa. Sabe o que faz, e tudo faz com sentido.
No entanto, fiquei bastante curioso na primeira aula de Escritos Paulinos que tivemos ontem, ou seja, apercebi-me de que há muito de lenda e verdades ocultas por de traz desse grande personagem Paulo de Tarso: muitas coisas se disseram a respeito dele e não se devia dizer e muitas coisas não disseram e deviam ter dito. Paulo de Tarso: lenda ou verdade? Portanto, há muitas leituras falsas sobre Paulo. Espero que, no fim do semestre, consigamos descodificar, um pouco mais, o verdadeiro Paulo.

"... Mas levanta-te, entra na cidade e ser-te-ão o que tens a fazer" ( Act 9, 6)

Arlindo Tavares











LOUCURA DA CRUZ

Paulo é uma figura fascinante e polémica. Para ele, tudo gira à volta da Cruz, do Cristo ressuscitado. Elogiando a lingaugem da Cruz, escreve : " A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina [...]. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria: mas nós pregamos Cristo crucificado, escandâlo para os judeus, e loucura para os pagãos; mas para os eleitos - quer judeus, quer gregos - força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" ( 1 Cor 1, 18. 22-25 ).

Foto : Arnaud Frich - Igreja de Billom, Puy -de- Dôme, France

segunda-feira, fevereiro 11


Bibliografia

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1994 Paul’s Narrative Thought World, Louisville, KY: Westminster John Knox.
1999 The Paul Quest: The Renewed Search for the Jew of Tarsus, Downer’s Grove, IL: Intervarsity Press.

Outra bibliografia específica será recomendada para cada uma das unidades

programa

O estado da arte
1.1. Por que se fala hoje da “reactivação de Paulo»?
1.2. O que há de novo nos estudos paulinos?
1.2. Questões em debate

Paulo de Tarso: ensaio de uma bio-grafia
2.1. A contas com heranças, datas e contextos2.2. A herança judaica de Paulo e o arranque da sua missão
2.3. Situar Paulo à sombra do Império
2.3. Detalhes da dicção Paulina (artes de dizer, modos de persuadir)
2.4. A retórica: construção e comunicação de um pensamento

Delimitação e conteúdo do “Corpus” Paulino
3.1. No “scriptorium” de Paulo
3.2. Especificidades do género epistolar
3.3. Classificação e forma das cartas paulinas3.4. Paulo maior do que Paulo: da tradição à formação de um “corpus”
literário

A que chama Paulo «o meu Evangelho»?
4.1. As cartas aos Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Gálatas e Romanos
4.2. As cartas do cativeiro
4.3. As cartas pastorais
4.4. A construção do Evangelho de Paulo
4.5. Eixos maiores da Teologia Paulina