sábado, fevereiro 16

A ESPECIFICIDADE DO “LOUVOR DE GLÓRIA” PAULINO NA EXPERIÊNCIA ORANTE DE ELISABETH DE LA TRINITÉ

Elisabeth Catez (n. 1880) deixou de ver o mar que ela amava, para perscrutar os insondáveis mistérios de Deus. O seu nome de profissão carmelitana é Elisabeth de la Trinité; ela era enamorada por Cristo e apaixonada pela Trindade.

Mística do séc. XX, Elisabeth de la Trinité amava São Paulo.

O que ela sabia de São Paulo veio a ser uma parte importante da herança espiritual deixada não só ao Carmelo, mas também à Humanidade.

Com Hans Urs von Balthasar, sinto fascínio por uma Teologia que se faz para adorar e pela grande orante e contemplativa Elisabeth de la Trinité, que sabe suscitar a adoração. “Na adoração,” afirma o teólogo helvético, “a alma torna-se simples (…)”[1].

O sintagma “louvor da sua glória” sobressai no texto paulino. São Paulo afirma: “nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo” (Ef 1,11-12).

Elisabeth de la Trinité sente-se provocada por aquele que considera instruído pelo próprio Deus, ou seja, por São Paulo. E permanece na linha paulina, quando, amorosamente, realiza o grande sonho de Deus e se torna “louvor de glória” da Santíssima Trindade, a partir da transformação em Jesus Cristo.

São Paulo inspira Elisabeth de la Trinité quanto à Cristologia, na qual sublinha a identificação com Jesus Cristo, mesmo na vertente da predestinação divina que ela adoptou. Ele afirma: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29).

É também São Paulo que inspira Elisabeth de la Trinité, ao ela não querer reconhecer o Filho segundo a carne, mas espiritualizado e glorificado, sendo revelado pelo Espírito Santo nos sacramentos, principalmente na Eucaristia, e na in-habitação trinitária (2). São Paulo, tal como São João, é nutrido por uma mística cristológica e pneumatológica (3).

Elisabeth de la Trinité conhece, por meio de São Paulo, o mistério do Filho, ainda que a Santíssima Trindade a deixe profundamente abismada.

“Por uma noite pacífica, num profundo silêncio,
Eu deslizo docemente sobre o oceano imenso.”

(1) Cf. BALTHASAR, Hans Urs von, Elisabeth de la Trinité et sa Mission Spirituelle, Seuil, Paris,1959, p 153
(2) Ibidem, p 168.
(3) Ibidem, p 173.


FONTE: Novo Testamento Interlinear Grego-Português, Sociedade Bíblica do Brasil, SãoPaulo, 2004
BIBLIOGRAFIA: Elisabeth de la Trinité – Oeuvres Completes, Cerf, Paris, 1991; BALTHASAR, Hans Urs von, Elisabeth de la Trinité et sa Mission Spirituelle, Seuil, Paris, 1959.


HELENA FRANCO
2008-02-16

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