quinta-feira, maio 8

contexto da 1.ªa carta aos corintios

Essa carta foi escrita para responder algumas questões levadas a Paulo por uma comissão de cristãos coríntios, considerando também as informações que o apóstolo recebeu através de Apolo e de pessoas da família de Cloé.
A comunidade cristã em Corinto estava desunida. A comunidade cristã de Corinto era viva e fervorosa, mas não era uma comunidade exemplar no que diz respeito à vivência do amor e da fraternidade: os partidos, as divisões, as contendas e rivalidades perturbavam a comunhão e constituíam um contra-testemunho. As questões à volta dos “carismas” (dons especiais concedidos pelo Espírito a determinadas pessoas ou grupos para proveito de todos) faziam-se sentir com especial acuidade: os detentores desses dons carismáticos consideravam-se os “escolhidos” de Deus, apresentavam-se como “iluminados” e assumiam com frequência atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favorecia a fraternidade e a liberdade; por outro lado, os que não tinham sido dotados destes dons eram desprezados e desclassificados, considerados quase como “cristãos de segunda”, sem vez nem voz na comunidade.
Por outro lado, após a partida de Paulo, tinha aparecido na cidade um pregador cristão – um tal Apolo, judeu de Antioquia, convertido ao cristianismo. Era eloquente, versado nas Escrituras e foi de grande utilidade para a comunidade na polémica com os judeus. Era mais brilhante do que Paulo – conhecido pela sua falta de eloquência (cf. 2 Cor 10,10). Formaram-se partidos na comunidade (embora Apolo não favorecesse essa divisão, segundo parece): uns admiravam Paulo, outros Cefas (Pedro), outros Apolo (cf. 1 Cor 1,12). Formaram-se “partidos”, à imagem do que acontecia nas escolas filosóficas da cidade, que tinham os seus mestres, à volta dos quais circulavam os adeptos ou simpatizantes: o cristianismo tornava-se, dessa forma, mais uma escola de sabedoria, na qual era possível optar por mestres distintos.
A situação preocupou enormemente Paulo: além dos conflitos e rivalidades que a divisão provocava, estava em causa a essência da fé. O cristianismo corria, dessa forma, o perigo de se tornar mais uma escola de sabedoria, cuja validade dependia do brilho dos mestres que apresentavam a ideologia e do seu poder de convicção. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele corrige, admoesta, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos, incompatíveis com o Evangelho. As pessoas se agrupavam a partir da preferência por um ou outro pregador do Evangelho. Paulo afirma categoricamente que o único mestre é Cristo e que existe somente uma e verdadeira mensagem: a salvação pela cruz, Sabedoria de Deus.
O contacto com pessoas de raças e religiões variadas e com a cultura grega influenciava negativamente os costumes dos cristãos coríntios. Paulo esclarece questões morais importantes, como: incesto, celibato, matrimônio, divórcio e virgindade. Surge, assim, uma teologia do corpo como morada do Espírito Santo.
O apóstolo corrige energicamente aqueles que se apresentam como cristãos mas praticam injustiça e roubos contra os próprios irmãos de comunidade. Orienta que questões como essas devem ser resolvidas pela comunidade, sem apelar aos tribunais civis.
Os cristãos coríntios perguntaram a Paulo se era ou não permitido comer carne sacrificada aos ídolos. Ele ensina que é preciso respeitar sempre os outros, seja nesta questão como em qualquer outra relativa à liberdade cristã.
Informado sobre as reuniões, cultos e uso dos carismas, o apóstolo denuncia a distinção sócio-econômica entre os irmãos e anuncia que todos os carismas devem-se subordinar à caridade – o carisma por excelência.
Também esclarece a verdade da ressurreição de Jesus e a conseqüente ressurreição de suas seguidoras e seguidores. O centro da fé cristã é a certeza de que a vida vence a morte.

quarta-feira, maio 7

Análise da estrutura da retórica na 1.ª carta aos coríntios

I Coríntios é uma carta de aconselhamento. Na ocasião em que Paulo encontrava-se em Éfeso, ele ouviu falar dos problemas da congregação cristã na cidade de Corinto e, por isso, passa várias instruções sobre diversos assuntos. Depois de tratar dos problemas da igreja que enfrentava dissensões e uma situação de desordem, Paulo passa a responder sobre as dúvidas dos cristãos daquela igreja. Paulo para o fazer revela fortes capacidades retóricas que são dignas de análise quando se dirige à comunidade.
Com efeito temos o praescriptum no início. Consequentemente temos o superscriptio: “PAULO (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes” – versículo 1. Temos depois o adscriptio: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso SENHOR Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” – versículo 2. E seguidamente a Salutio: “Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” – versículo 3).
Seguidamente temos o exordium que Paulo usa para captar a benevolência dos auditores de modo a torná-los dóceis e receptivos (versículos 4 – 9). È interessante verificar que Paulo capta a benevolência falando nos dons da Comunidade, assunto que depois irá tratar no capítulo12. Há também um conceito chave como “comunhão” aludido neste exordium que Paulo também trata em maior extensão na carta, dizendo que o dom sem amor, caridade, nada é no famoso capítulo 13.
No versículo 10 verificamos o uso da Propositio ou tese, que é o pedido de Paulo que, neste caso, é que não haja contendas na comunidade. Depois vem a probatio que constitui as provas, as razões que suportam esse pedido presente no versículo 11 e seguintes.
É de referir que Paulo em suas argumentações no Novo Testamento usa sempre de uma dicotomia lógica:
(a) Se acreditam ou fazem p (verdadeiro), então porque acreditam ou fazem q (falso)?
Ou então a inversa desta dicotomia, onde ler-se-ia:
(b) Se acreditam ou fazem p (falso), então porque acreditam ou fazem q (verdadeiro)?
O caso de I Cor. 15:29 segue o segundo padrão (b)
I Cor. 15:12: Agora se é pregado de Cristo que ele se levantou dos mortos, como dizeis alguns de vós de que não há ressurreição dos mortos? (exemplo (a) da nota acima)
No fim aparece a peroratio que constitui a síntese conclusiva da comunicação.

terça-feira, maio 6

No meio das adversidades…

No apostolado de Paulo não faltaram dificuldades, que ele enfrentou com coragem por amor de Cristo. Ele mesmo recorda ter agido "pelos trabalhos... pelas prisões... pelos açoites, pelos frequentes perigos de morte... três vezes fui açoitado com varas, uma vez apedrejado; três vezes naufraguei... viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus concidadãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre os falsos irmãos; trabalhos e fadigas, repetidas vigílias com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! E além de tudo isto, a minha obsessão de cada dia: cuidar de todas as Igrejas" (2 Cor 11, 23-28). De um trecho da Carta aos Romanos (cf. 15, 24.28) transparece o seu propósito de chegar até à Espanha, às extremidades do Ocidente, para anunciar o Evangelho em toda a parte, até aos confins da terra então conhecida. Como não admirar um homem como este? É claro que não lhe teria sido possível enfrentar situações tão difíceis e por vezes desesperadas, se não tivesse havido uma razão de valor absoluto, perante a qual nenhum limite se podia considerar insuperável. Para Paulo, esta razão, sabemo-lo, é Jesus Cristo, do qual ele escreve: "O amor de Cristo nos impulsiona... para que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Cor 5, 14-15), por nós, por todos.