quinta-feira, abril 17

Górgias e Sócrates num cocktail

Sócrates representa o amor à verdade e Górgias representa o amor à linguagem. Paulo ama ambas: entende a linguagem como o veículo digno da verdade, que lhe dá beleza, corpo e tentáculos que sugam o que no homem há de fascinável. A retórica comporta em si um tipo de sedução que consegue entrar e circular nas veias de sentido. Mas, ao contrário de Górgias, a linguagem só encontra a sua dignidade se for verdadeira. Enquanto que numa perspectiva gorgiana a retórica funciona como maquilhagem, que a qualquer rosto podem pintar e fazer parecer mais atraente, do ponto de vista socrático a verdade é a carne e os traços do rosto, na sua nudez. Para Paulo a verdade é um rosto mas enquanto retrato: a retórica são as tintas do pintor que expõe o rosto reconstruindo-o.

Sócrates e Górgias, a certa altura do seu diálogo, concordam em definir retórica como “obreira da persuasão que gera a crença – (do grego doxa – a opinião), não o saber” (Górgias 455a). Com esta definição ocorre uma separação entre verdade e retórica, que Sócrates vê como muito negativa e Górgias compreende como natural. Paulo como que volta atrás e redifine retórica: para ele é a obreira da persuasão, mas da persuasão da verdade. Desta forma fá-la reactora da atracção de Cristo.

Sem comentários: