terça-feira, abril 15

Paulo e os Coríntios – Formação da comunidade

Corinto significa o ponto mais alto da segunda viagem apostólica de Paulo. Tendo de sair precipitadamente de Tessalónica e depois de uma curta paragem em Bereia, de onde tem de partir, de novo à pressa, deixando Timóteo e Silvano (Silas), devido a uma nova conjura dos Judeus (Act 17, 5-10), Paulo demora-se algum tempo sozinho em Atenas, onde, no areópago, pronuncia um discurso que não tem grande êxito (Act 17, 16-34).
Decide então ir para Corinto, ficando a habitar com um casal de Judeus, Áquila e Priscila, fabricantes de tendas, como ele próprio. Áquila e Priscila tinham acabado de chegar de Roma, de onde tinham sido expulsos pelo édito de Cláudio (Act 18, 1-4). Com a chegada de Timóteo e Silvano, Paulo dedica-se mais intensamente à pregação na sinagoga, mas, perante a recusa e blasfémias do Judeus, sacode contra eles as sandálias declarando, “que o vosso sangue caia sobre as vossas cabeças; eu estou inocente. A partir de agora, vou dirigir-me aos pagãos” (Act 18, 6). Apesar de tudo, um bom número de Judeus aderiu à mensagem de Paulo, entre os quais Crispo, o chefe da sinagoga (Act 18, 8). Paulo passa a residir então em casa de um prosélito, Tito Justo, de onde se dedica, com sucesso, durante um ano e meio, à pregação entre os pagãos, provavelmente entre o Outono de 50 e a Primavera de 52 DC.
Desencadeia-se, então, contra ele, um violento ataque dos Judeus, que o levam diante do procônsul Galeão, irmão mais velho de Séneca, que recusa intervir na questão, por considerá-la um assunto religioso próprio dos Judeus. Passado algum tempo, Paulo despede-se dos irmãos, dirige-se ao porto de Cêncreas, onde embarca em direcção à costa da Palestina, juntamente com Áquila e Priscila, depois de ter cortado o cabelo, em força de um voto que tinha feito (Act 18, 18).
Dois dados da narração dos Actos permitem uma datação relativamente precisa da estadia de Paulo em Corinto: o édito de expulsão dos Judeus de Roma, que leva Paulo a encontrar-se com Áquila e Priscila em Corinto e que é habitualmente datado do ano 49 e o encontro com o procônsul Galeão, o dado mais seguro da cronologia Paulina, que se coloca na primavera de 52. Dado que, segundo os Actos, Paulo permaneceu ano e meio em Corinto, a sua estadia teve lugar entre o fim do ano 50 e meados de 52.
Ao partir, Paulo deixa em Corinto uma comunidade já muito numerosa e diversificada, formada sobretudo por cristãos provenientes do paganismo e pertencentes sobretudo aos estratos sociais mais humildes[1], embora a comunidade contasse também com um bom número de Judeus. Os vícios do paganismo, a sedução de uma cidade como Corinto, as dificuldades de harmonizar a vida de uma comunidade com uma proveniência tão diversificada dos seus membros, cedo levantaram problemas que levarão Paulo a escrever e a intervir directamente em Corinto.
As cartas aos Coríntios atestam um passo importante na difusão do cristianismo. Embora a igreja de Tessalónica estivesse situada numa cidade já importante, a comunidade de Corinto parece ser a maior jamais constituída numa grande cidade de mentalidade helenista, durante a época apostólica. É nela que se dá o grande encontro entre a mensagem evangélica e a sabedoria, a piedade e as sociedades típicas do mundo helenista romano. Daí também as dificuldades surgidas e a importância destas cartas de Paulo, destinadas a resolverem problemas e a traçar o caminho novo do evangelho, no ambiente cosmopolita de Corinto.
[1] Paulo refere-se várias vezes ao antigo modo de agir dos coríntios, quando estavam no paganismo (1Cor 8, 7; 12, 2), enquanto que dá claramente a entender que a generalidade dos membros da comunidade não pertence às classes cultas e abastadas: “Considerai a vossa vocação, irmãos: não há entre vós muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres” (Cor 1, 26)

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