sexta-feira, maio 30

PAULO: O DISCURSO DA LOUCURA DE DEUS

A CRUZ – CRISTOLOGIA [1]

“Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. […] Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.”

(1 Cor 1, 18-25)

Cristo não é fracassado. Um Deus crucificado não é uma “contradição” senão para a sabedoria do mundo nem é uma “ideia”.
[2] Quer dizer, o cristianismo só faz sentido mediante a cruz de Cristo. A cruz e o Crucificado não são tanto objecto de teologias clássicas, que constituem propostas para a racionalidade inerente à organização do pensamento dogmático, isto é frio e desapaixonado, mas de uma teologia relacional.

O “evangelho da cruz” perturba a consciência humana e transforma-a. É que o “evangelho da cruz” não é senão o do amor apaixonado de Deus aos homens. Neste evangelho, Deus revela o seu julgamento e também a sua salvação.

Paulo de Tarso, no quadro do cristianismo primitivo, representa a tradição kerigmática que vê na morte e na ressureição de Cristo o acontecimento central da salvação e propõe a “teologia da cruz” como uma nova hermenêutica que parte à descoberta da morte do Nazareno.
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A “teologia da cruz” é o princípio estruturante do discurso paulino. Segundo este princípio, Paulo mostra que na sua “loucura”, Deus é mais sábio que os homens, e na sua fraqueza, é mais forte do que eles.

A palavra “cruz” não significa morte, mas ressureição. A “teologia da cruz” é a mesma da “esperança”, da “glória” e da “ternura”.

[1] Trata-se aqui de apresentar um capítulo sobre Paulo do meu trabalho académico com referências claras à teologia da relação ou da ternura para a disciplina de Cristologia. (FRANCO, Helena Gouveia Franco, A Cruz-Cristologia, Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Teologia, Mestrado Integrado em Teologia, Lisboa, 2007).
[2] Ao contrário da afirmação de Feuerbach: “um Deus crucificado é uma contradição ridícula e uma ideia miseramente condenada” (FERREIRA, José de Freitas, “Cruz, sinal de contradição” in A cruz sinal de Redenção, Lisboa: Didaskalia 1986, p 6.
[3] Cf. Lição de Jean Zumenstein dada a 7 de Novembro de 2000 na Faculdade de Teologia protestante de Montpellier, por ocasião da abertura do ano académico. (“Paul et la théologie de la croix” in http:// www.revue-etr.org/)
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HELENA FRANCO
2008-05-30

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