«A Palavra de Deus crescia e multiplicava-se»

Aconteceu algo de novo em Antioquia, alguns cristãos helenistas vindos de Cirene e Chipre, não se preocuparam com a oração nas sinagogas, mas dirigiram-se aos pagãos e ensinaram-lhes a religião de Jesus Cristo. Desta forma nasceu a primeira Igreja entre os gentios. Foi uma revolução profunda na história primitiva do cristianismo, estes gregos romperam com o judaísmo, viviam com os pagãos, oravam com eles, pregavam-lhes o Evangelho e as conversões multiplicavam-se. A Igreja de Antioquia, apesar de alguns judeus convertidos, aparece desde o princípio como igreja constituída por gentios, independentes do Templo de Jerusalém e das suas tradições, recusando a circuncisão.
Como chamar este novo grupo de crentes e esta nova religião? Eles falam continuamente de Cristo, não são pagãos nem judeus, rejeitam as aberrações sexuais e o culto a Afrodite. São Lucas, no livro dos Actos (11, 26), escreve: «Pela primeira vez, em Antioquia, os discípulos tomaram o nome de CRISTÃOS». A Igreja existe, é reconhecida, tem direito de cidadania. Sem esquecer tudo quanto deviam à Igreja de Jerusalém, a Pedro, Tiago e João, a Maria mãe de Jesus e aos discípulos, ela toma consciência da sua originalidade. Estêvão mostrara que as tradições judaicas eram transitórias e pertenciam ao passado.
Na Igreja de Antioquia, conservavam-se as tradições de Estêvão, da vida, pregação e milagres de Jesus, do seu nascimento e da sua morte e ressurreição.Entre os médicos da cidade, um chamava-se Lucas, era culto, bondoso e alegrou-se com a notícia de Cristo Salvador, que amava os pobres, defendia as mulheres e enaltecia os estrangeiros. No seu íntimo pensou em salvar estas memórias do esquecimento e deixá-las como tesouro para toda a humanidade. Inspirado pelo Espírito Santo escreverá, mais tarde, o terceiro evangelho e os Actos dos Apóstolos.
A Igreja de Jerusalém está apreensiva. Que se passava em Antioquia? Os pagãos recebem o baptismo sem antes serem circuncidados? Pedro não procedeu de igual modo em Cesareia, baptizando o Centurião romano e a sua família? E o Espírito Santo não desceu sobre eles, como em Jerusalém no dia de Pentecostes? Barnabé, que «era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e fé» (Act. 11, 24) foi enviado pelos apóstolos para observar e «quando lá chegou e viu a graça de Deus, alegrou-se e exortava todos a perseverar fiéis ao Senhor com coração firme» (Act. 11, 23).