sábado, maio 17

O Estar com Cristo Crucificado

“Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gl 2,19b-20)
Na cruz, revela-se a profundidade da entrega de Jesus Cristo por nós, no cumprimento da vontade do Pai. Cristo Jesus se entregou por nossos pecados a fim de nos arrancar a este mundo do mal. O sentido profundo de sua entrega é o amor que o moveu em toda a sua vida. Amor a nós, cujo cume é sua entrega por nossos pecados, mas também e inseparavelmente amor ao Pai. A frase Paulina continua dizendo que a entrega de Cristo se realiza conforme a vontade de Deus que é nosso Pai, expressando assim, que o gesto salvador de Jesus manifesta sua obediência à vontade de Deus. Desse modo, o amor pelo qual Jesus Cristo se entrega livremente na cruz é a um só tempo amor a Deus e a nós. Em outras palavras podemos dizer que a cruz é o sinal pelo qual se manifesta a entrega total de Jesus Cristo ao Pai e a nós por amor.
Toda a vida de Cristo foi marcada por sua singular relação filial com Deus, pólo de sua existência e por uma convivência humana imbuída de amor e verdade. Sua vida de fé consistiu na absoluta confiança no Pai, mediante a qual ele fez de sua existência um constante “sim” a Deus, que se expressou de modo excepcional em sua entrega na cruz. Conforme o ensino Paulino ser justificado, isto é, ser feito justo diante de Deus, ser salvo é algo que recebemos exclusivamente pela fé de Cristo. De fato, Cristo se entregou por nós, manifestando, em última análise, sua fé, confiança absoluta no Pai cuja vontade é seu alimento. Por sua fé, Cristo alcançou-nos a salvação. Acreditando em Cristo que por sua fé realizou a nossa salvação amando-nos e entregando-se por nós, entramos em comunhão com ele. Nossa participação na salvação realizada por Deus no seu Cristo dá-se mediante a acolhida do dom de Deus, em continuidade com a experiência de Jesus.
Experimentando e reflectindo sobre a salvação realizada pela fé de Jesus Cristo, Paulo pôde dizer-se crucificado com ele. Como ele próprio dirá, estar crucificado com Cristo consiste em que o próprio Cristo viva nele. Isto significa concretamente que a acolhida do dom manifestado em Cristo Jesus nos une intimamente a Deus, estabelecendo uma relação pessoal de encontro e reciprocidade na qual Deus mesmo se torna o pólo de nossa existência assim como o foi na vida de Jesus.
Dado que esta relação nos é possível pelos méritos da fé de Cristo podemos, então, dizer que é ele mesmo que vive em nós. Unidos a ele, que viveu e se entregou por amor, nós vivemos seguindo seus passos, na perspectiva de fazer a vontade de Deus, fazendo de nossa existência humana uma oferenda de amor. No entanto, este modo de existir só nos é acessível por que o próprio Espírito de Cristo foi derramando em nossos corações (Cf. Gl 4,6) e nos envolve na dinâmica de sua vida, impelindo-nos a viver no amor de Deus e do próximo. A cruz de Cristo corrobora, portanto, tanto a tese da universalidade do desígnio salvador de Deus quanto a afirmação da própria justificação pela fé.

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