sábado, maio 17

«Cheio do Espírito Santo»

A titubear Saulo entra na porta da cidade, segue pela rua direita, onde os ruídos se misturam com os odores das especiarias, e entra na casa de um certo homem chamado Judas, onde permanece três dias, sem ver, nem comer nem beber. Sente-se um fariseu virado de dentro para fora, não são os cristãos que estavam errados e tinham de mudar, mas ele, o discípulo de Gamaliel, preso à letra da Lei, que viu Jesus Ressuscitado e não pode seguir pelo antigo caminho. Estêvão tinha razão, não pedira ele ao Senhor Ressuscitado para não vingar a sua morte? Ananias, judeu convertido, piedoso e tímido, recebe a ordem de Jesus: «Levanta-te, vai à rua direita e busca em casa de Judas um homem de Tarso, chamado Saulo; eis que ele está orando» (Act. 9, 11). Ananias tem medo, esperava ser acorrentado por ele e levado a Jerusalém para ser julgado. Ele conhecia «os males que este homem fez em Jerusalém». Mas o Senhor diz-lhe: «Vai, porque este é um instrumento escolhido por Mim, para levar o Meu nome aos gentios, aos reis e aos filhos de Israel» (Act. 9, 15).Ananias obedece, entra na casa de Judas, impõe as mãos sobre Saulo e diz-lhe: «Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho onde vinhas, enviou-me para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo». Saulo recuperou a vista, levantou-se, foi baptizado, tomou alimento e recuperou as forças.Três dias de escuridão, fome e sede, como Jonas no ventre da baleia, como os dias que antecederam a Ressurreição de Jesus. Morreu o perseguidor, ressuscitou o apóstolo dos gentios. O acontecimento no caminho de Damasco não foi apenas a revelação de Jesus como o Messias esperado, mas também a certeza de que Saulo estava errado.Deus manifestou-lhe o Seu amor misericordioso, quando Saulo era ainda «blasfemo, perseguidor e insolente» (1 Tim. 1,13). A graça superabundou o pecado. O Deus de Abraão, Isaac e Jacob, enviou o Seu Filho Jesus para o justificar gratuitamente, sem mérito seu, porque «a plenitude da Lei é a prática do amor» (Rom. 13, 10; Gal. 5, 14).A ruptura com o seu passado foi total, mas continuou fiel ao seu Deus e ao seu povo, mas agora com «a preocupação por todas as igrejas». Saulo é um homem livre, escreveu aos Gálatas «foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gal. 5, 1).Chamado por Jesus à vocação apostólica, Paulo vai formular na carta aos Romanos o seu caminho espiritual: «Tudo aquilo que acontece, nós sabemos, que concorre para o bem daqueles que Deus ama, para o bem daqueles que, segundo o Seu desígnio, foram chamados» (Rom. 8, 28). O génio de Hipona, Santo Agostinho, que passara por uma experiência semelhante para encontrar Jesus, comentou: «A graça deitou-o por terra e depois ergueu-o novamente».

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