quinta-feira, maio 15

A “Espada” de Paulo…

Para além do sinal de martírio, podemos acrescentar ainda um outro significado da espada nas mãos de São Paulo. Na Escritura a espada também é sinal da palavra de Deus, que "... é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes ... e discerne os sentimentos e inten­ções" (Heb 4, 12). Foi esta espada que Paulo levantou. Com ela conquistou os homens.

A "Espada" é definitivamente uma imagem para o poder da verdade, que é de natureza específica. A verdade pode doer, pode ferir - corresponde à natureza da espada. A vida na mentira, ou, simplesmente, a vida à margem da verdade parece mais cómoda do que a exigência do verdadeiro. Por isso, os homens irritam-se por causa da verdade, desejam detê-la, oprimi-la, fugir-lhe do caminho.

Quem pode negar que já alguma vez a verdade o tenha perturbado - a verdade sobre si mesmo, a verdade sobre o que devemos fazer ou deixar de fazer? Qual de nós pode afirmar que nunca tentou colocar-se à margem da verdade, ou não tentou ao menos adaptá-la a si, para que não fosse tão amarga? Paulo era incómodo, porque foi um homem da verdade. Quem se entrega totalmente à verdade e renuncia a qualquer outra arma ou actividade além dela, não será necessariamente condenado, mas andará muito próximo do martírio. Será sempre um sofredor. Proclamar a verdade, sem se tomar fanático nem justiceiro - esse será o grande compromisso.

No auge dos conflitos, talvez Paulo, por vezes, se tornasse um pouco azedo, próximo do fanatismo. Mas nunca se tornou num fanático. Encontramos, nas suas car­tas, textos cheios de bondade, sobretudo na Carta ao Fili­penses, que revelam o seu verdadeiro carácter. Podia manter-se livre do fanatismo, porque não se anunciava a si mesmo, antes revelava aos homens os dons que Outro lhes trazia: a verdade que vem de Cristo, que por ela entregou a vida, amando até à morte.

Também aqui devemos corrigir a imagem que temos de Paulo. Recordamos demasiado os textos combativos de Paulo. Algo semelhante acontece com a figura de Moisés: recordámos Moisés como homem infla­mado, inacessível e irado. No entanto, o livro dos Núme­ros diz que Moisés "era um homem muito humilde" (Nm 12, 3). Um leitor de todos os escritos de Paulo descobrirá um Paulo humilde.

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