sexta-feira, maio 2

Circunstâncias das cartas aos Coríntios

Depois da pregação em Corinto, Paulo conclui a segunda viagem missionária com uma passagem por Éfeso, aonde promete voltar. Depois de uma visita a Jerusalém, regressa a Antioquia, de onde partira (Cf. Act 18, 19-22).
Passado pouco tempo, partiu de novo para a terceira viagem. Atravessando a Galácia e a Frígia, a fim de confirmar a fé das comunidades aí existentes (Cf. Act 18, 23), chegou finalmente a Éfeso, onde se demorou cerca de dois anos e três meses (Cf. Act 19, 8-10). Foi desta cidade que escreveu as cartas aos Coríntios, por volta de 56/57.
Entretanto, pouco depois da partida de Paulo, chegou a Corinto Apolo, um Judeu muito culto, a quem Áquila e Priscila tinham esclarecido no “caminho” do Senhor, durante uma estadia em Éfeso (Cf. Act 18, 24-28; 1Cor 3, 6). Ao que parece, sem grande culpa da sua parte, um grupo dos membros da comunidade de Corinto, começou a contrapor a sua figura à de Paulo, enquanto outros se apelavam a outras autoridade, como a de Pedro, que poderá também ter passado pela cidade. Formam-se assim grupos que provocam rupturas e divisões na comunidade (Cf. 1Cor 1, 12; 3, 4). Além disso, tinham surgido sérios problemas de ordem moral e de interpretação da fé, que causavam grande tensão e desordem.
Chegando a Éfeso, Paulo tem conhecimento destes factos e escreve uma primeira carta, que se perdeu, mas que se encontra claramente referida em 1Cor 5, 9.11. Pouco depois chega a Éfeso uma delegação da comunidade de Corinto, composta provavelmente por Estéfanes, Fortunato e Acaico, portadora de uma carta em que se pediam instruções sobre vários pontos de doutrina e de comportamento[1]. Trazem também notícias que serenam um pouco as inquietações de Paulo. Este responde numa segunda carta, que constitui a primeira carta aos Coríntios, levada presumivelmente pelos membros da delegação comunitária. Com eles segue Timóteo, provavelmente para verificar pessoalmente como estava a comunidade e esclarecer quaisquer dúvidas[2].
Estas diligências não foram suficientes para resolver as dificuldades. Pelo contrário, surgiram graves problemas em Corinto que levaram Paulo a fazer uma rápida visita à comunidade, onde parece ter sido pessoalmente posto em causa com tal intensidade que se sentiu profundamente ofendido (Cf. 2Cor 2, 5; 7, 4). Voltando a Éfeso, parece ter escrito uma carta muito dura, conhecida como “Carta das Lágrimas” (Cf. 2Cor 2, 4)[3], em que existia, a adopção de medidas drásticas para garantir a ordem e a autoridade na comunidade. Também esta carta se perdeu.
Por esta altura, até talvez como portador da terceira carta, Paulo envia Tito a Corinto (Cf. 2Cor 12, 18), provavelmente para ajudar a implementar as medidas preconizadas e vir trazer-lhe notícias a Tróade, para onde tencionava dirigir-se. Mas, devido ao tumulto que se verificou em Éfeso e que o obrigou a apressar a partida, não encontrou Timóteo em Tróade. Extremamente preocupado dirige-se então pessoalmente à Macedónio, em circunstâncias pouco claras, pois há uma certa dificuldade de conciliação entre os vários dados disponíveis nos Actos e em 2Cor.
O que é certo é que Paulo escreveu pelo menos mais uma carta, a nossa segunda carta aos Coríntios, depois de ter recebido a notícia de que estes tinham acatado as suas ordens e tomado medidas severas contra aquele que tinha posto em causa a sua autoridade.
[1] “Agora, quanto às coisas que me escrevestes…” (1Cor 7, 1). “Alegro-me com a presença de Estéfanes, Fortunato e Acaico, porque eles suspiram a vossa ausência e trouxeram a tranquilidade ao meu espírito” (1Cor 16, 17-18).
[2] “Por isso enviei-vos Timóteo, que é meu filho muito amado e fiel no Senhor. Ele vos recordará os meus caminhos em Cristo, tal como eu os ensino em toda a parte e em todas as igrejas” (1Cor 4, 17; Cf. 1Cor 16, 10ss; Act 19, 22)
[3] “Por isso, decidi comigo mesmo não voltar a ir ter convosco, estando triste. Com efeito, se vos entristeço, quem me poderá dar alegria senão aquele que eu tiver entristecido? E escrevi-vos justamente isto, para que, ao chegar, não sinta tristeza da parte daqueles que me deviam alegrar. Estou confiante, quanto ao que vos diz respeito, de que a minha alegria é a de todos vós.Foi, pois, em grande aflição e com o coração despedaçado, que vos escrevi entre muitas lágrimas, não para vos entristecer, mas para que conheçais o amor transbordante que vos tenho.” (2Cor 2, 1-4)

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