domingo, abril 20

A ESCATOLOGIA PAULINA E A TRILOGIA DE SALVADOR DALI INSPIRADA NA DIVINA COMÉDIA DE DANTE


Para Käsemann, toda a teologia do Novo Testamento é fruto de uma mentalidade apocalíptica.

Há um 1º momento, segundo Bultmann, em que Paulo acreditava que a parusia ainda seria para aquela geração, estando integrada na história e com centralidade no triunfo de Deus.

Há um 2º momento em que a escatologia paulina é decisiva para a formulação da cristologia que está a acontecer. A autoconsciência e a autodefinição de quem é Jesus Cristo é a questão decisiva da centralidade cristológica de Paulo.

A escatologia paulina é a construção de um campo semântico que se descreve simultaneamente em modo vertical (temporal: hoje/futuro) e horizontal (aqui).

Nesta aguarela intitulada “inferno”, a meu ver, Salvador Dali representa pictoricamente a verticalidade e a horizontalidade desse campo semântico, que não só se cruzam entre si como também são mediadas por diagonais.

A densidade da escatologia paulina tem a ver com o seu discurso estar entre duas linhas, o que de acordo com a minha análise corresponde à cor densa com que a aguarela termina.

A natureza contingente da teologia de Paulo, por sua vez, corresponde ao próprio aprisionamento do centauro inteiro, isto é, o corpo humano preso no corpo animal. A cor avermelhada que em termos psicanalíticos representa as pulsões tem a ver com a teologia Paulina do corpo. Sendo o corpo templo do Espírito Santo, é curioso ver o centauro – representação do inferno, ou melhor, de corpos corrompidos - encimado pelo seu próprio sopro, pois escatologia paulina é pneumatológica, o que vem na continuidade da escatologia judaica.


NOTA: Há, desde 18 de Abril, uma exposição de 100 gravuras de aguarelas de Salvador Dali inspiradas na Divina Comédia de Dante correspondendo às séries “Inferno” (CCB), “Purgatório” (São Bento- R.Industriais) e “Paraíso” (Twin Towers).

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