quarta-feira, maio 28

PROSTITUIÇÃO SAGRADA: O CASO DE IRINA PALM À LUZ DOS ESCRITOS PAULINOS

Na Antiguidade, em várias civilizações do Médio Oriente era comum a prostituição sagrada, pela qual os homens iam a templos ter relações sexuais, com a finalidade de comungarem com uma deusa particular.

O filme Irina Palm de Sam Garbarsky representa uma cultura constituída sobre um sistema matriarcal, em que não existe senão prostituição sagrada.

Maggie (Marianne Faithfull), uma viúva de meia-idade, trabalha no Sexy World como Irina Palm por um motivo altruísta: obter dinheiro suficiente para pagar os tratamentos que podem salvar a vida do seu neto.

Embora a sua vida dupla seja moralmente questionada por ela própria e pelo seu filho, Maggie encontra o respeito e o amor da família, em que é, sem dúvida nenhuma, a matriarca.

O Sexy World assemelha-se a um templo em que Irina Palm é a prostituta sagrada, encarnando a deusa. Sendo assim, torna-se responsável pelo gozo sexual dos homens anónimos que confiam os seus falos à sua mão macia. Separados por uma parede, mas ligados por um orifício, os homens e a prostituta sagrada estão juntos numa busca espiritual.

Em Paulo, o corpo torna-se lugar da glória de Deus.

“Será que vocês não sabem que o corpo de vocês faz parte do corpo de Cristo? Será que eu vou pegar numa parte do corpo de Cristo e fazer com que ela seja parte do corpo de uma prostituta?” É claro que não! Ou será que vocês não sabem que o homem que se une com uma prostituta se torna uma só pessoa com ela? As Escrituras Sagradas afirmam: “os dois se tornam uma só pessoa.” Porém quem se une com o Senhor se torna, espiritualmente, uma só pessoa com ele.” (1 Cor 6,15-17)

Paulo coloca o acento numa verdadeira teologia da corporeidade. O corpo é, no pensamento semita, a pessoa em situação e em relação. Por isso, a prostituição sagrada é uma gramática superada por uma nova gramática, em que é a Cristo, e não à prostituta sagrada, que homens e mulheres se unem por vínculos inseparáveis. O que se une a Cristo é um com Ele.

Irina Palm é um drama de uma busca espiritual sem encontro, o que está simbolizado pela parede que impede o conhecimento entre as pessoas e o amor recíproco; a espiritualidade autêntica ligada ao sexo está mais nos Escritos Paulinos porque Paulo, a partir da ideia semita de corpo, constrói um pensamento, ou melhor, uma teologia do corpo.

HELENA FRANCO
2008-05-27

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