sexta-feira, maio 30

ANÁLISE RETÓRICA DA CARTA AOS FILIPENSES (V)

A quinta secção que consta na Carta aos Filipenses é a probatio (3, 2-21).

Que argumentos sustentam a tese paulina da unidade (e consequentemente a ameaça dessa unidade)?
O v. 2 dá-nos um primeiro argumento: «cuidado com esses cães, cuidado com esses maus trabalhadores, cuidado com os falsos circuncisos!». Portanto, temos esboçada a questão dos partidários da circuncisão dentro da comunidade – aqueles que prestam culto a Deus gloriando-se na carne e entendendo que para se ser cristão era impensável que não se seguisse os costumes de Moisés. Comentando a questão da carne, Gnilka sublinha que «esta se refere ao mundo e concretamente ao mundo como auto-segurança, na tentativa de alcançar nele a autonomia e a salvação. Mas deste modo o homem vê-se preso e remetido à precariedade da sua própria confiança»[1]
A este argumento Paulo contrapõe com um segundo (que se estenderá dos vv. 4-15): que a circuncisão é irrelevante para o culto a Deus. Só Cristo importa, pois com Ele surgiu uma nova realidade e que o que estava para trás, já não tem qualquer importância. Paulo corre para a meta que o conduzirá a Cristo, de tal modo que tudo o que tinha algum valor para ele, deixou de o ter. A ressurreição de Jesus e a fé na sua [de Paulo] ressurreição – expressão da comunhão com Cristo – é o decisivo na vida de Paulo. O apóstolo reforçará este argumento, apresentando-se como modelo para a comunidade (v. 17) e lembrando-a que a sua pátria está no céu (v. 20): «esta orientação não pretende desligá-los das suas responsabilidades terrena, mas só fazer-lhes conscientes de que aqui são peregrinos, de que não se podem confundir o céu e a terra como pretendiam fazer os adversários»[2] E em relação à questão da carne: será transfigurada por Cristo (v. 21), por isso não deve ser motivo de preocupação para a comunidade.

[1] GNILKA, Joachim – Carta a los Filipenses. Barcelona: Editorial Herder 1971, pp. 59-60.
[2] Ibidem, p. 69.

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