sexta-feira, maio 30

ANÁLISE RETÓRICA DA CARTA AOS FILIPENSES (III)

A terceira secção que consta na Carta aos Filipenses é a narratio (1, 12-26).
Destacaríamos 3 momentos do ponto da situação que o apóstolo dá a conhecer: 1) a prisão; 2) o conhecimento de falsas intenções entre os irmãos que pregam o Evangelho; 3) a alegria do apóstolo no cárcere.
Paulo encontra-se preso. Apesar desta situação embaraçosa, o Evangelho não deixa de produzir os seus frutos (v. 12). Comenta Gnilka: «a resposta consoladora parte da prisão: contra toda a esperança, o Evangelho progrediu, dentro e fora, no círculo do apóstolo e na comunidade da cidade onde estava encarcerado, em Éfeso»[1].
Mesmo estando no cárcere Paulo tem conhecimento de uma variedade de intenções entre os pregadores da Palavra (vv. 14-18). Mais uma vez sublinha Gnilka que «o vergonhoso para uma comunidade e para a Igreja é que se ponha um véu sobre as suas circunstâncias nocivas ou que […] se ignorem totalmente. Quanto menos combatido, com maior certeza se pode propagar o mal. A inveja e as rivalidades destruíram a harmonia que era exigida aos pregadores de Éfeso. Cristo é pregado com segundas falsas intenções»[2].
Não deixa de ser interessante a atitude e na pacificação deste conflito: alegra-se com o anúncio de Cristo. É isso que, em última análise, importa. «Desde a base deste sentimento emana a alegria, não, naturalmente pelo mal, mas pelo bem que este sentimento é capaz de descobrir, mesmo numa actuação pervertida e hostil»[3].
Por falar neste sentimento de alegria, o próprio apóstolo apresenta-se à comunidade como alguém que, mesmo estando preso e entre cadeias, sente que tem alguma utilidade. A prisão, como todo o seu ambiente de sofrimento e hostilidade é lugar para a epifania de Cristo: «[…] Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte» (v. 20). Esta convicção do apóstolo resulta, em última análise, de um certo desejo de morrer: «[…]desejo partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor» (v. 23), que logo é ultrapassado pela certeza de que estar com a comunidade é mais vantajoso e, de certa forma, é um estar com Jesus. A comunhão com Cristo – meta e chave de toda a existência – não podia ter um sabor ganancioso. Essa comunhão passaria ainda por estar com a comunidade.

[1] GNILKA, Joachim – Carta a los Filipenses. Barcelona: Editorial Herder 1971, p. 24.
[2] Ibidem, p. 25.
[3] Ibidem, p. 27.

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