sexta-feira, maio 30

Primeira Carta aos Coríntios

A comunidade de Corinto era aquilo que podemos designar por uma comunidade doméstica. A casa, na antiguidade, governada pelo pater familias, era o elemento chave da vida da cidade e do Estado, no Império romano, sendo a família a base fundamental da estrutura social. Toda a vida decorria ao redor da casa, fosse ela urbana ou rural, era nela que a família levava a cabo as actividades para a sua subsistência, tratava dos negócios, sendo também um local de reunião e de convívio intra ou extra-familiar. Mesmo no plano religioso, a casa ocupava um lugar central. Apesar da religião oficial – do Estado, diríamos – marcada pelas grandes celebrações litúrgicas de veneração às principais divindades, o espírito religioso passava muito pela religião doméstica onde eram venerados os lares os manes e os penates, divindades do lar, particulares e os espíritos dos antepassados.

Dizendo que a Igreja de Corinto era uma comunidade doméstica, não nos estamos a colocar no âmbito do que acima no referente aos cultos pagãos, contudo, a tomada de consciência desta tradição religioso-cultural, no império, abre horizontes para a primeira radicação do cristianismo nascente. O cristianismo é uma religião sem “templo”, no sentido o que o judaísmo atribuía a este conceito, por outro lado, cedo, as sinagogas, local de reunião e pregação, se tornaram hostis. É na casa que o cristianismo primitivo encontrará o seu topos sendo a família o primeiro núcleo religioso. A domus assume o papel de base difusora do cristianismo, sendo que para isto em muito contribuiu a sua importância na sociedade, bem como a sua flexibilidade para acolher uma minoria religiosa e permitir a sua irradiação.

Sem comentários: