sexta-feira, maio 30

Paulo e Corinto

É Lucas, companheiro de Paulo, quem, no livro dos Actos dos Apóstolos, fornece os principais dados (testemunho indirecto) sobre a actividade missionária de Paulo que, por volta de meados do século I escreve as duas cartas aos coríntios que chegaram até aos nossos dias conservadas no cânone cristão. No livro dos Actos (18, 1-18) é narrada a segunda viagem apostólica de Paulo. Este parte de Atenas, onde, apesar de um discurso bem preparado, segundo os moldes da retórica, no areópago, não logrou converter muitos cidadãos. Tendo em conta esta prévia "má" experiência e dada a fama de Corinto, onde, devido às particularidades da cidade, reinava a corrupção moral, compreende-se a confissão do missionário que afirma ter chegado à urbe “com temor e tremor” (1Cor 2, 3). E abono da verdade, a tarefa que tinha pela frente não se apresentava deveras facilitada.

Como se foi tornando uma constante na sua evangelização, já na cidade, dirige-se à sinagoga onde prega aos judeus e ao grupo dos “tementes a Deus” que lhe eram próximos. Por outro lado, associa-se a dois judeus que tinham o mesmo ofício que ele, fabricante de tendas, passando a morar e a trabalhar com eles. Trata-se de Áquila e Priscila, sua mulher, que haviam sido expulsos de Roma a quando do édito do Imperador Cláudio, segundo o qual nenhum judeu deveria permanecer na cidade de Roma (Act 18, 2).

Mais tarde chegam, vindos da Macedónia, Silas e Timóteo, seus companheiros, sendo que Paulo se entrega à pregação da Palavra. Posteriormente, surge um movimento de oposição por parte dos judeus o que o leva a dirigira sua pregação essencialmente aos gentios. Muda-se então para casa de Tito Justo um “Temente a Deus”. Paulo permanece em Corinto cerca de uma no e meio entre o ano 50 e o ano 52, durante este período redige as duas cartas aos Tessalonissenses.

Já na sua terceira viagem apostólica, Paulo permanece três anos em Éfeso. Estando aí, chegam até si notícias preocupantes acerca do estado da sua amada comunidade de Corinto. Com o intuito de resolver os problemas redige a sua primeira carta que infelizmente se perdeu e que, assim, não está presente no cânone cristão (1Cor 5, 9). Mais tarde, o apóstolo é informado pelos de Cloé (1Cor 1, 11; 5, 1) acerca das discórdias no seio da Igreja sendo que é também consultado acerca de alguns pontos de doutrina e costumes (1Cor 7, 1). Este responde com aquilo que hoje chamamos a Primeira Carta aos Coríntios.

Da própria carta pode deduzir-se que Paulo tinha sido informado de uma série de abusos que se tinham introduzido na Igreja de Corinto: havia vários partidos no seio da comunidade (cf 1, 11ss); notava-se um grande laxismo com respeito à castidade (cf 5,12ss) chegando-se inclusive a um caso de incesto (cf 5, 1ss); havia pleitos de cristãos diante de tribunais pagãos (cf 6, 1ss); algumas mulheres comportavam-se sem o decoro devido nas reuniões litúrgicas (cf 11, 2 ss; 14, 34 ss); tinham-se introduzido desordens na celebração da Eucaristia (cf 11, 17ss). Por outro lado, a própria comunidade tinha enviado uma delegação, formada por Estéfanas, Fortunato e Acaico (cf 16, 17) com um escrito no qual consultavam o Apóstolo com uma série de dúvidas (cf 7, 1.25; 8, 1; 12, 1); sobre matrimónio e virgindade (cf 7, 1ss); sobre a liceidade de comer carnes imoladas aos ídolos (cf 8, 1ss) ; sobre o uso e valor dos carismas (cf 12, 1ss); sobre a ressurreição dos mortos (cf 15, 1ss).

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