segunda-feira, abril 21

O cristianismo nas terras da Galácia

O cristianismo nas terras da Galácia

A investigação sobre as epístolas paulinas cada vez mais trata das questões sociais que envolviam as comunidades às quais Paulo dirige as suas epístolas.
Particularmente, é interessante notar a forma pela qual Paulo aborda a questão das divergências presentes nas comunidades da Galácia. Esses conflitos são de natureza social, podendo ser analisados e, a partir dos resultados da investigação, devidamente expostos como chave para a compreensão da mentalidade paulina.
Paulo escreveu uma epístola às comunidades cristãs da Galácia, a Epístola aos Gálatas. Escreveu nos anos 48 ou 56 d.C, para resolver problemas surgidos por causa dos judeus convertidos, que quiseram impor sua lei judaica aos cristãos vindos do paganismo.
Portanto, a grande questão, que inquietava Paulo, era esta: os pagãos acolhiam a Palavra de Deus, eram baptizados e formavam comunidade crente em Jesus, sem antes serem instruídos na Lei de Moisés, sem serem circuncidados e sem cumprirem a observância cultual do Templo. Os irmãos de Jerusalém, judeus tradicionais, não admitiam este processo! Eles, de judeus tinham-se convertido a Cristo. Devia acontecer o mesmo processo com os pagãos. Primeiro, convertiam-se ao judaísmo, à Lei de Moisés e ao culto do Templo, pelo sinal da circuncisão; e só depois poderiam ser baptizados no Nome de Jesus Cristo.
Este era o grande foco de tensão na Igreja nascente, a Igreja das comunidades. Paulo é o grande defensor da liberdade do Evangelho vivido pelos pagãos, o instrumento escolhido pelo Espírito: “Vai, que te vou enviar lá ao longe, aos pagãos!” (Act 22, 21; 13, 46-48; 28, 25-29)
Esta “tensão de crescimento” da Igreja nascente tem dois rostos fundamentais, Pedro e Paulo, como nos aparece na carta de Paulo aos cristãos da comunidade da Galácia: “Quando Pedro veio a Antioquia, opus-me frontalmente a ele, porque estava a comportar-se de modo condenável. Com efeito, antes de terem chegado umas pessoas da parte de Tiago (líder de Jerusalém), ele comia juntamente com os pagãos. Mas, quando eles chegaram, Pedro retirava-se e separava-se, com medo dos defensores da circuncisão. E com eles também os judeus agiram hipocritamente, de tal modo que até Barnabé foi arrastado pela hipocrisia deles! Mas, quando eu vi que não procediam bem, de acordo com a Verdade do Evangelho, disse a Pedro diante de todos: Se tu, sendo judeu, vives segundo os costumes pagãos e não judaicos, como te atreves a forçar os pagãos a viver como judeus?!” (Gal 2, 11-14).
Paulo pouco importava que alguém fosse circunciso ou não, que fosse um cristão vindo do judaísmo ou do paganismo (Gal 6, 5; 1Cor 9, 20). Não proibia ninguém de observar a Lei de Moisés, mas não suportava a pretensão daqueles “super-apóstolos” (2Cor 11, 5) que queriam impor essa Lei como condição necessária para ser cristão!
Em Cristo são todos iguais. Tudo o resto, normas, observâncias, prescrições, passou a ser secundário, faz parte dos meios e instrumentos para alguns que deles não se conseguiram libertar. Meios para um fim, instrumentos para viver o essencial!
A carta aos Gálatas pode ser resumida numa única frase: “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres” (5,1). Os gálatas acolheram com grande entusiasmo essa Boa Notícia, pois o evangelho anunciado por Paulo era o sonho de vida e liberdade há tanto tempo esperado. É por isso que a carta aos Gálatas foi e continua sendo, em todos os tempos, o grito de liberdade dos que crêem em Jesus Cristo.

Arlindo Tavares

Sem comentários: