quarta-feira, maio 28

Fraqueza e Graça

Paulo é um homem que conheceu o cansaço das provações e foi fiel até o fim, porque ele próprio fez a experiência da fidelidade ao Deus de Jesus Cristo: "Para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Se­nhor que o apartasse de mim. Mas ele me disse: 'Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força'" (2Cor 12,7-9). Realmente, Cristo o transfigurou (aliás, a narrativa de sua conversão nos Actos dos Apóstolos tem analogias com a transfiguração de Jesus em Lucas 9) e Paulo faz disso um tesouro, aprendendo a esvaziar-se totalmente de si para ser pleno somente de Deus e, desta forma, doar-se aos outros, plenamente apaixonado pelo Senhor: "Fui crucificado com Cristo; não sou mais eu que vivo, mas Cristo que vive em mim. Esta vida na carne eu a vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim" (GI2,20). Por isso não hesita em definir-se como "prisioneiro de Cristo" (Ef 3,1; cf. também 4,1) e "servo de Cristo Jesus, apóstolo por vocação, pré-escolhido para anunciar o evangelho de Deus" (Rm 1,1). Em Cristo ele tornou-se o colaborador da alegria dos outros (cf. 2Cor 1,24), a testemunha exigente e um pai amoroso (cf 1Cor 4,14-16). Está pronto para seguir o Mestre até o fim, no caminho da cruz...

A cruz é o destino que o espera: completando na carne o que falta à paixão de Cristo, em favor de seu corpo, que é a Igreja, Paulo vive em si a paixão de seu Senhor, andando com fé viva e amor generoso ao encontro da morte. "Por isto me alegro pelos sofrimentos que suporto por Vós e completo em minha carne aquilo que faltou aos sofrimentos de Cristo, em favor de seu Corpo, que é a Igreja" (CoI. 1,24). Os capítulos 21-28 dos Actos dos Apóstolos são chamados "passio Pauli": é a paixão do discípulo, a viagem do cativeiro, que se concluirá com o martírio no tempo da perseguição de Nero (64-65).

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